terça-feira, 26 de setembro de 2017

TELINHA QUENTE 278


Roberto Rillo Bíscaro

Durante 8 temporadas, o especialista forense Dexter Morgan teve que dar conta de seu trampo, compromissos familiares e ainda esconder/escamotear sua identidade de assassino em série. Nos 16 episódios da série que leva seu sobrenome, DCI John Luther não tem tantos afazeres quanto Dex, porque não possui envolvimento familiar, mas divide sua atenção entre a resolução de seus casos e tentar esquivar-se dos que o perseguem por crê-lo amoral, desonesto, assassino mesmo.
As quatro temporadas exibidas pela BBC entre 2010-15 são bem menos complexas do que o propagandeado por distribuidoras, tipo Netflix (inclusive a brasileira). Os casos são brutais e a resolução vem quase sempre num piscar de olhos dedutivo do supostamente genial Luther. Ocorre que quase sempre o policial está às voltas em salvar sua própria pele ou distintivo, então, a trama detetivesca tem que ser resolvida mais rapidamente. Nada muito contra, porque a ambiguidade e o relativismo moral meio Charles Bronson, contrastado com genuína preocupação pelo próximo, tornam Luther um show acima da média. Só não é essa Fossa de Mindanau de profundidade psicológica de que tentaram me convencer. As estripulias são tão malucas quanto as de Whitechapel, embora este seja mais divertido, porque menos pretensioso.
Mas, como não gostar de Luther, que é fã de David Bowie e sabe que Siouxsie And The Banshees não era “gótico”, mas pós-punk? Que bom que cada vez mais policiais gostem de pop e não de jazz e ópera. Deixo pros estudiosos de representação afro na TV, a problematização de se ter um protagonista policial negro, que embora racional ao extremo na dedução, animalescamente não consiga reprimir seus instintos agressivos e esmurre portas e objetos ao redor. Por si, não há problema nisso, porque há afros assim, o possível estorvo é a frequência nos tipos de representação. Sabe aquela coisa do albino maluco ou com superpoderes? Nada errado se fosse outro ou um, mas esmagadoramente descritos assim, isso se torna prejudicial formador de opinião sobre nós.
A ambiguidade de Luther está até na única pessoa que o compreende e vice-versa, uma psicopata, que semi-clona Hannibal Lector, mas tem o mesmo sobrenome que Dexter. Alice Morgan rouba todas as cenas e ansiamos pra que apareça, o que é um problema pruma série nomeada a partir da personagem central.
Apesar dos defeitozinhos e do exagero na divulgação, Luther fez sucesso e ganhou até refilmagem russa, intitulada Klim. Se você procura policial mais profundo, vá de Happy Valley ou River, mas se já viu Whtechapel e quer mais diversão, Luther é a série.

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