terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

TELINHA QUENTE 248

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Roberto Rillo Bíscaro

Whitechapel é um bairro londrino tornado mundialmente famoso/infame, nas últimas décadas do século XIX, devido a uma série de assassinatos de mulheres, atribuídos a Jack, The Ripper. O Estripador aterrorizou Londres; a caçada policial deu início a práticas forenses mais profissionais; a mídia atingiu frenesis de cobertura, inclusive inventando fatos que se tornaram senso-comum; a atenção sobre a horrendamente pobre vizinhança chamou atenção para a brutal desigualdade social no então império mais rico do planeta. Whitechapel era pura favela charcosa em meio à pretendida pompa e circunstância vitorianas.
Por essas razões, Jack o Estripador deve ser o serial killer mais famoso da história. Antes e depois houve quem matasse muito mais – nunca se soube quem foi Jack; muito menos se foi um ou mesmo homem ou quem matou todas as moças de Whitechapel – mas a figura não tem tido paz desde então. Teorias estapafúrdias, livros, documentários, filmes, “releituras e ressignificações” (ah, a pós-modernidade) vem à tona constantemente. Só nesta década, pelo menos 3 séries britânicas relacionam-se aos Assassinatos de Whitechapel: Ripper Street (na fila do HD), Penny Dreadful (tentei ver, mas na metade do segundo capítulo achei que sofreria falência múltipla dos órgãos por tédio) e Whitechapel.
Entre 2009 e 2013, foram exibidos os 18 episódios das 4 temporadas de Whitechapel, pela ITV britânica. Composta por histórias independentes abrangendo 2 episódios, Whitechapel se passa no bairro londrino dos dias de hoje, mas não deixa de reverenciar seu habitante mais ilustre: a primeira história é de um imitador dos crimes do Estripador. A polícia relutantemente pede ajuda a um Estripadologista (ripperologist, no original) e a insânia começa.
Whitechapel é absolutamente despirocada e a doideira só aumenta com o passar das tramas. Tem sinagoga secreta, gêmeos gangsteres, bruxas, suínos vitorianos produzindo raça mutante no vasto esgoto da capital britânica, assassino à slasher film e isso é só a ponta do novelo, pra não entediar leitores, nem entregar a diversão tão facilmente. No mais das vezes, os elementos sobrenaturais são dados como ponto de partida e funcionam como motivadores de sustos e risadas, mas a maldade em Whitechapel é sempre bem humana, concreta e nojenta (prepare o estômago). Mas é tão demasiada e mirabolante que adquire delicioso tom de diversão mesmo. Psiquiatria não é minha área; como nos divertimos com tanta violência não está no meu escopo de entendimento. Mas, que é delicioso, isso é! Como não rir quando entra em cena um criptozoólogo? Parece astro-arqueólogo de Homem-Aranha japonês!
No centro de todas as investigações, a improvável dupla DI Chandler e DS Miles (Phil Davis, o Smallweed, de Bleak House  - amo demais, acho ele meio Johnny Rotten!), auxiliados por DCs que não permanecem uniformes em todas as temporadas, mas ganham algum interesse pessoal, embora dê pra viver sem eles de boa. Legal mesmo é ver o metrossexual patologicamente obcecado por limpeza e muito TOCado Chandler, com seu sotaque highbrow, tendo que descer aos fétidos esgotos pra examinar cadáver parcialmente devorado por ratos. Não é sua ideia de diversão? Acredite, é menos chocante do que descrito; a reação dele dilui muito da nojeira.
Whitechapel é tão maluco quanto a maior parte das teorias sobre Jack, o Estripador, que, se existiu como homem/mulher só, deve estar rindo de satisfação no inferno, ao ver que sua memória não foi esquecida.

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