quinta-feira, 13 de julho de 2017

TELONA QUENTE 193

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Roberto Rillo Bíscaro

Aranhas gigantescas são impossíveis, assim como enxames inteligentes invasores de cidades, por isso tais catástrofes não dão medo maior, a não ser sustos pontuais. Incêndios e terremotos - em Los Angeles, por exemplo, onde haverá um devastador, segundo geólogos – nos deixam mais inseguros. Incêndios também apavoram: quantas fatalidades num prédio londrino, há poucas semanas!
A Noruega possui várias dessas bombas-relógios cataclísmicas. Seu solo enrugado tem várias montanhas que fatalmente despencarão asseguram os cientistas. O problema é que não se sabe quando, e isso pra assustar, vem melhor que qualquer encomenda. Se a comunidade que um dia será soterrada por rocha ou água for escandalosamente linda e turística, como Geiranger, melhor ainda.
Esse enredo pronto pra cine-catástrofe não passou despercebido pra Roar Uthaug, fã do subgênero, e diretor de A Onda (2015), constante do catálogo da Netflix brasileira.
 A fita tem todos os elementos dos tradicionais filmes de catástrofe. Kristian é geólogo em seu último dia de trabalho no observatório da montanha Åkerneset, que todo mundo sabe cairá no fiorde resultando em devastadora onda tsunâmica, que engolfará Geiranger, num prazo de 10 minutos a partir do deslizamento. Kristian descolara trampo na bilionária indústria petrolífera norueguesa, então partiria antes da esposa e do filhão, que teriam que ir ao hotel, onde mama trabalhava e precisava cumprir mais um dia de serviço. É óbvio que nesse derradeiro dia de Kristian, os sensores - que acusaram anormalidade no dia anterior, mas ninguém deu bola – vão à loucura e Åkerneset vem abaixo. A partir do momento que a avalanche atinge o lago fiordal, Kristian tem os tais 10 minutos pra salvar sua família.
Cine-catástrofe exige espetáculo de efeitos especiais, por isso é associado a Hollywood, onde jazem os orçamentos milionários. Assim, é pertinente especular se a indústria cinematográfica norueguesa tem cacife pra brincar de Tinseltown. Quem não viu, fique tranquilo: embora longe da grandiosidade norte-americana, o impacto do tsunami em Geiranger é bem decente.
Uthaug compensa defasagem em relação à Hollywood, dirigindo uma película cheia de suspense e que, justamente por não ser norte-americana, coloca a espectador em dúvida algumas vezes por não sabermos se a Noruega seguirá todas as convenções estabelecidas pelos estadunidenses. Será que esses escandinavos “frios” deixarão Kristian salvar sua família presa no hotel? Essa desestabilizada de leve em nossas certezas e adivinhas de tramas já valeria pra surfar nessa Onda.
Mas, Uthaug quis narrativa que não destoasse tanto da usual desse subgênero, então, diversos elementos familiares estão presentes. Convivemos dezenas de minutos com Kristian e sua família, cuja filha carrega urso de pelúcia e tudo, pra gente amar. Criada a empatia com um núcleo, quando desaba o desastre, vemos seres-humanos morrerem horrivelmente empalados e nem ligamos, afinal já temos o nosso “nós”. Os demais, são o Outro. Que morram, é pra nossa diversão.   
Parte pela manipulação emocional que faz com que nos importemos apenas com poucas pessoas, parte devido ao orçamento, quando Kristian vai reencontrar mulher e filho, a cidade pós-tsunami – que tem espaços secos pra pequenas e convenientes fogueiras iluminadoras do cenário – resume-se a esse núcleo, além de uma personagem complicadora da situação, também convencional em filmes-catástrofe. Que seja interpretado por ator dinamarquês (Thomas Bo Larsen) diz bastante das pequenas rivalidades e antipatias cordiais entre os escandinavos.
Fosse apenas como curiosidade cinematográfica “exótica”, A Onda não mereceria recomendação, mas o filme é bem-feito, tenso e divertido. O empreendedorismo de Roar Uthaug compensou: Hollywood já o recrutou pra dirigir a revitalização da franquia Tomb Raider, que estreará em 2018.

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