domingo, 22 de abril de 2012

MEDICINA INCLUSIVA

Cegas ajudam médicos a detectar câncer de mama


Gudrun Heise
O sentido do tato em pessoas cegas é muito apurado e sensível, conseguindo muitas vezes perceber também os menores nódulos e alterações num seio.
Isso levou o ginecologista Frank Hoffmann, da cidade alemã de Duisburg, à ideia de empregar mulheres cegas como "examinadoras táteis medicinais" ou MTU, na sigla em alemão. Em 2006, ele fundou a iniciativa Discovering hands (mãos descobridoras).
A cada ano, por volta de 74 mil mulheres contraem câncer de mama na Alemanha, e a cada ano mais de 17 mil morrem da doença no país, muitas vezes porque ela é detectada muito tarde. Para diagnosticar possíveis tumores em fase precoce, os médicos utilizam diferentes exames de prevenção, como mamografia e o exame de ultrassom.
Além disso, toda mulher é aconselhada a fazer mensalmente o autoexame da mama. Duas vezes por ano, esse exame deve ser realizado por um ginecologista. Existe ainda a possibilidade de confiar o exame a uma examinadora cega, que trabalha juntamente com o médico.
Mama dividida em quatro zonas
Marie-Luise Voll ficou cega aos 52 anos em consequência de um glaucoma. Desde 2008, ela trabalha em estreita cooperação com o consultório de Frank Hoffmann.
A formação dela levou nove meses. Anatomia da mama, terapia e diagnóstico estavam entre os temas do currículo. Ela conta que os exercícios de treinos foram feitos nos próprios seios. "Fixamos tiras de orientação em nós mesmas e nas orientadoras para os exames de treino", explicou Marie-Luise Voll.
Com essas tiras, o seio é dividido em quatro zonas. Assim, a examinadora pode apontar com precisão onde estão as possíveis alterações ou nódulos no tecido, descrevendo-as ao médico.
Métodos convencionais não são substituídos
Até agora, a experiência com as "examinadoras táteis medicinais" foi um sucesso: entre 450 mulheres, foram encontradas 56 alterações na mama. "Pelos exames, demonstrou-se claramente que as MTU são capazes de palpar tão bem quanto especialistas bem treinados", explicou Frank Hoffmann. Segundo o médico, elas teriam encontrado uma série de alterações que não teriam sido percebidas pelos médicos.
Hoffmann acrescentou, no entanto, que esse método não poderá substituir procedimentos convencionais como a mamografia ou o ultrassom. Existe ainda outro ponto: o tempo que uma MTU tem à disposição, de 30 a 60 minutos por paciente. Dessa forma, elas podem se ocupar de forma intensiva com as mulheres e tentar tirar-lhes o medo antes do exame.
Um método para países em desenvolvimento
Com a iniciativa Discovering Hands, Frank Hoffmann teve experiências muito boas desde 2006. Atualmente, as examinadoras podem se formar em vários lugares da Alemanha, e desde fins do ano passado o ginecologista tem o apoio da organização Ashoka. A organização fomenta os chamados "empreendedores sociais".
Dessa forma, o ginecologista recebeu uma bolsa de estudos da Ashoka e reduziu seu expediente no consultório para se dedicar intensamente ao desenvolvimento da iniciativa Discovering Hands.
Hoffmann está convencido de que o método da palpação com a ajuda de examinadoras cegas também é apropriado para a prevenção em países emergentes e em desenvolvimento, onde há carência em equipamentos técnicos e infraestrutura. Para mulheres cegas, por sua vez, abrem-se perspectivas completamente novas, como também uma nova profissão.

Autora: Gudrun Heise (ca)
Revisão: Roselaine Wandscheer

Nenhum comentário:

Postar um comentário