quinta-feira, 26 de abril de 2012

A CIÊNCIA PONDO ORDEM NA CASA

Orca branca não é tão surpreendente, diz especialista


Em entrevista exclusiva para a NATIONAL, pesquisador brasileiro comenta o registro fotográfico de uma orca branca no litoral russo



A imagem correu o mundo. O primeiro registro fotográfico de uma orca branca na história foi feito no litoral russo, na Península de Kamchatka, no extremo oriente do país. Por mais espanto que o animal pouco avistado possa causar, ocorrências de cetáceos e outros grandes animais marinhos com suspeita de albinismo são relativamente frequentes. No final do ano passado, em Santa Catarina, uma toninha (um tipo de cetáceo) branca foi fotografada. “Há muitos casos na literatura científica”, afirma Mario Rollo, especialista em cetáceos e professor do Campus do Litoral Paulista da Unesp, localizado em São Vicente. Na entrevista a seguir ele fala com exclusividade para a NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL ONLINE da ocorrência de orcas – brancas ou não – na costa brasileira e de como a ciência encara a suspeita de albinismo nas profundezas do oceano.
NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL: É a primeira vez que uma orca branca é registrada na natureza?
Mario Rollo: Não. Existem vários outros registros na literatura científica desde pelo menos 1942.
O registro fotográfico foi surpreendente?
Não tanto. Existem registros de tubarões-baleia e raias albinas, para falarmos de outros grupos de vertebrados marinhos. É questão de incrementar o esforço de observação em termos globais para se registrar mais espécies portadoras desta anomalia.
Outros cetáceos albinos já foram vistos antes?
Até o momento, existem registros de indivíduos albinos (ou leucísticos, brancos na maior parte do corpo, ainda que com olhos normais) em pelo menos 20 espécies de cetáceos, de golfinhos a baleias.
O que significa para a ciência comprovar a existência de uma orca branca?
Significa simplesmente constatar que o albinismo é de fato disseminado em quaisquer grupos de mamíferos e que as orcas não fogem à regra.
Já houve registro de algum cetáceo albino na costa brasileira?
Sim, temos dois casos de albinismo (ou, repito, leucistismo, pois não foi possível observar a cor dos olhos) para duas diferentes espécies de golfinhos costeiros: o boto-cinza, no Rio Grande do Norte, em 2008, e a toninha, em Santa Catarina, no final do ano passado.
Peixes e mamíferos marinhos enxergam cores?
Ao que tudo indica, possivelmente não, embora a acuidade visual fora da água seja muito boa na maior parte das espécies.
A orca albina avistada tem uma nadadeira de 2 metros de altura. É possível imaginar o comprimento do corpo desse animal?
Sim. Um macho adulto com esta altura de nadadeira dorsal possui aproximadamente 9 metros de comprimento. Tampouco é o primeiro animal adulto da espécie registrado com essas características (um macho adulto com estas proporções pode pesar até 9 toneladas; as fêmeas são um pouco menores e quando adultas pesam até 6 toneladas).
É possível dizer quais vantagens e desvantagens uma orca branca pode ter no oceano?
Ainda é difícil dizer se o albinismo confere algum tipo de desvantagem específica da perspectiva da acuidade e da sensibilidade visual, exposição a predadores, limitações termo regulatórias ou taxa de sobrevivência. Faz-se necessário aumentar o número de registros e acompanhar mais de perto e por mais tempo esses animais.

As orcas frequentam a costa brasileira?
Os registros são mais comuns do que aparentam e muito próximos da costa em alguns casos. Somente no estado de São Paulo, temos registros de grupos de orcas desde Cananéia, passando pela Laje de Santos, Canal de São Sebastião, Ilhabela e Ubatuba. No Rio de Janeiro, tem sido comuns observações de grupos de orcas na Barra da Tijuca em pleno verão.
Elas representam algum perigo para o ser humano na natureza?
Tanto quanto qualquer animal silvestre de grande porte pode representar, mais pela presença física do que propriamente pela agressividade.
Quais são as espécies de baleias brancas?
Existem várias espécies de cetáceos cuja pigmentação é clara, por vezes praticamente branca. O exemplo mais típico é a beluga dos mares temperados e árticos, mas temos algumas espécies de golfinhos de coloração muito clara, como os golfinhos do Irrawaddy e australianos (gênero Orcaella), os golfinhos corcundas do Indo-Pacífico (gênero Sousa) e ainda alguns com matizes de preto e branco, como os golfinhos de Commerson, de Peron e o Ampulheta.

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