terça-feira, 4 de junho de 2019

TELINHA QUENTE 363


Roberto Rillo Bíscaro

Hoje faremos dobradinha temática! O elo é o nome internacional usado para divulgar essas duas séries: Undercover. Duas séries policiais europeias, uma da Bulgária; outra belga. Uma ótima; outra, não. Uma na Amazon; outra, na Netflix.

A Bulgária é um dos degraus mais baixos da UE. Com altas taxas de emigração e corrupção, o ex-país comunista é cenário mais que adequado pruma boa série de gangsteres. A Televisão Nacional da Bulgária produziu cinco temporadas de dúzia de episódios cada, de Undercover (2011-16), ora no catálogo brasuca da Amazon, em versão dublada.

Em seus sessenta episódios, Undercover mostra um policial infiltrado na quadrilha mafiosa mais importante de Sofia, liderada pelo fã de ópera Petar Tudzharov, o Dzaro. Aos poucos descobrimos que seu perseguidor implacável, o Comissário Emil Popov, tem razões muito pessoais para odiá-lo. Essa porosidade da fronteira entre o pessoal e o professional perpassa parte da trama em todas as temporadas. Empregos na polícia viram obsessões pessoais. Há horas que parece que os bandidos são mais profissionais, porque seguem seu objetivo empreendedor que é basicamente, lucrar, como o de qualquer empresa.

Declaradamente inspirada pelo filme Os Infiltrados (2006), de Martin Scorcese, Undercover deve muito também à obra de Quentin Tarantino (aquela musiquinha com guitarra surf-rock é pura tarantinice) e a séries como Sopranos (o Gancho é totalmente Frank Tagliano). Isso não desmerece a produção, cujos roteiros supostamente baseados em casos policiais reais da Bulgária, são absorventes, cheios de ação e só cansam um pouco na derradeira temporada, devido a um par de escolhas questionáveis. Por que fazer aquilo por tantos episódios com a personagem tão importante de Popov?

Undercover existe num universo eminentemente masculino, que para padrões anglo-europeus e até de outros países, chega a ser chauvinista. Mulheres são estúpidas dondocas, objetos pra prazer e violência e intercambiáveis até na aparência. Na quinta temporada há desastrada tentativa de regeneração. A policial-psicóloga é ridicularizada e hostilizada por seus colegas da polícia, de modo inacreditável até pra nós latinos, tão machistas. Ou, talvez, porque estejamos mais acostumados a ver produções de países onde fazer esse tipo de representação despertaria fúrias tempestivas.

Quem teme por produção empobrecida por ser de país sem tradição televisiva pra nós, engana-se. Ao longo das temporadas, há explosões, perseguições, tudo muito bem feito. Undercover prende e tem final que você não espera (não vi o filme de Scorcese, então não sei se foi inspirado por ele).
A Bélgica tem sido uma das queridinhas de telespectadores um pouco mais alternativos, nesses últimos anos. O pequenino reino já contribuiu duas séries bem legais para o catálogo da Netflix brasileira: Tabula Rasa e La Trêve. Esses programas foram produzidos por outras estações e adquiridas pela Netflix, mas este ano a empresa estreou sua primeira produção belgo-holandesa, Undercover, aqui batizada de Operação Ecstasy.

A província fronteiriça entre os dois nanicos e ricos países europeus é a maior produtora mundial de ecstasy e outras drogas sintéticas, uma espécie de Colômbia do primeiro mundo, com assassinatos ao ar livre e suborno a granel.

Baseada em fatos, Undercover mostra um casal de policiais infiltrando-se numa espécie de condomínio rural, onde vive o chefão do tráfico local, com sua esposa e asseclas. A parte policial não poderia ser mais clichê: a tensão é gerada pelas desconfianças às vezes suscitadas pelos parças do narcotraficante e pelas saias-justas que o casal de tiras tem que passar.

A Undercover belga tenta adicionar ingredientes extras e interessantes, como possível ligação entre o casal de policiais e o desenvolvimento dum vínculo pra lá de afetuoso entre a policial e esposa do traficante. Infelizmente, nada disso é aprofundado, então Undercover é mais do mesmo, totalmente esquecível.

Acresce que dez capítulos foram demais. O miolo da série tem problemas monumentais de ritmo. Há capítulos que dá tranquilamente pra ficar no Zap o tempo todo e ainda entender, se bem que nem interessa muito, anyway.  

A Netflix deveria ter pegado essa grana e comprado shows belgas já prontos e fantásticos, como 13 Comandments, Cordon e/ou The Out-Laws.

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