quinta-feira, 6 de junho de 2019

TELONA QUENTE 291

Roberto Rillo Bíscaro

Já daria pra fazer disciplina de pós-graduação apenas sobre slasher films. Dividiria o curso tipo, a) antecedentes; b) Halloween; (fase áurea 78-84); c) Pânico e, daí, por diante, daria pra discutir cada convenção slasher usando um filme contemporâneo que as expusesse ou subvertesse ou zombasse. O que Scream fez no atacado, roteiristas têm esmiuçado à ponto de crer que não há mais pedra alguma a ser virada.

Todo semestre, saem uns 2 filmes divertidamente enfocando algum lugar comum slasher. Hell Fest é sobre o anonimato do assassino; Terror Nos Bastidores problematiza a final girl e olha que nem lembro mais quantos já resenhei.  

No finalzinho do ano passado, saiu You Might Be The Killer, resultado de uma série de tweets entre os escritores Sam Sykes e Chuck Wendig, que discutiam convenções dos filmes slasher. Brett Simmons, com mais duas mãos, escreveu roteiro em cima da ideia e acabou dirigindo a película. Não é à toa que boa parte da exposição em You Might Be The Killer (YMBTK) é feita por conversa telefônica entre as duas personagens centrais Sam e Chuck. Até aí a metalinguagem predomina.

No acampamento Camp Clear Vista, supervisores começam a morrer como moscas nas mãos de um serial killer mascarado. O chefe dos monitores, Sam, liga pra Chuck, sua melhor amiga e experta em convenções slasher, e os dois chegam á conclusão de que o próprio Sam pode ser o assassino. Desta vez, a convenção enfatizada é a da identidade secreta do maníaco mascarado.

Subverter/Trazer à berlinda uma convenção não significa abandonar outras e YMBTK é enciclopédia de referências. Chuck explica cada um dos lugares-comuns slasher e a trama, nomes das personagens e produção aludem a tudo quanto é slice’n’dice digno de nota, especialmente os passados em acampamentos, dois quais Sexta-Feira 13 é a matriz.

Nesse jorro autorreferente e paródico, há personagens chamadas Fred, Nancy e Jamie, que, para espectador leigo pode não significar nada, mas para fãs slasher são Freddie Kruegger e sua final girl mais famosa e Jamie é, claro, a Lee Cutis, de Halloween. Aliás, Laurie Strode é citada nominalmente, bem como Nancy. Só não espere individualidade; a maioria está no roteiro apenas pra ser morta. É desculpa pra morte slasher e não gente, o que não seriam mesmo, anyway, porque é só um filme.

Só não há alguém chamado Jason, mas nem é necessário, porque a máscara, roupa, modo de caminhar e matar e até o característico kikikiki mamama estão na composição do assassino, que, então, desde logo sabemos quem é.

Visualmente, YMBTK remete tanto ao ápice oitentista desse tipo de filme, como aos vídeos de body counts, encontráveis aos montes no Youtube. A cada personagem morta, aparece o número na tela. Será que hoje não dá mais pra fazer slasher que não explicite sua autoparódia?

Há mortes bem legais e gruesome, como amamos, mas, a ênfase na forma e nas convenções, como sempre, tira o suspense e o terror. Como levar susto se há alguém prevendo o que acontecerá? Por mais divertidos que sejam esses metaslashers sempre dão a impressão de masturbação mental de conhecedor enciclopédico.

You Might Be The Killer serve pra se entreter numa tarde/noite, com amigos ou, como prefiro, com saquinhos de amendoim ou queijo nozinho.

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