sexta-feira, 28 de junho de 2019

PAPIRO VIRTUAL 138


Roberto Rillo Bíscaro

Em 2014, não apreciei muito The Purity Of Vengeance, conforme contei na resenha. Nem achei que leria outro da série do Departamento Q, que funciona num porão da polícia de Copenhague, desvendando crimes que a polícia classificara como insolúveis.

Mas, deu vontade der ler Nordic Noir (virou fase, pois li outros depois) e vi The Absent One (2008) perdido nos recônditos do Kindle, então, baixei de novo. No Brasil, o livro chama-se A Caça e foi lançado pela editora Record.

É o segundo volume da série do detetive Carl Mørck e seu assistente Assad. The Purity Of Vengeance é o quarto e ambos têm praticamente o mesmo tema: uma mulher que sofreu muito e agora quer se vingar. Só que no caso d’A Caça (embora eu o tenha lido em inglês, chamarei-o pelo título em português), Kimmie é tão ou mais psicopata, quanto os três ex-amigos que quer eliminar.

Um dos pontos fracos d’A Caça é que logo cedo descobre-se que há grupo de psicopatas riquíssimos, cujo prazer sádico é torturar e, às vezes, matar pessoas e animais. Então, boa parte do livro é o procedimento de caça a esses indivíduos.

Sem mistério a desvendar, restou a Adler pesar nas cenas de crueldade, algumas supérfluas, porque pretendem demonstrar algo que estamos carecas de saber: essa gente é louca e perversa. Aliás, quem é sensível a violência contra animais, nem comece a folhear, porque é repulsivo.

Influenciados pelo filme A Laranja Mecânica, meninos riquinhos de internato começam a barbarizar e o fazem durante anos. Adler não tem a menor preocupação ou habilidade em nuançar suas personagens: ricos são invariavelmente frios, calculistas e insensíveis.  Só faltou “olhar pra câmera” e gargalhar.

Em 2016, o romance foi adaptado pras telonas, com o título internacional The Absent One, a ausente sendo a Kimmie, a psicopata regenerada e sofredora que vivia nas ruas. O filme é bem mais palatável em termos de demonstração de violência, especialmente contra animais.

Numa narrativa que ziguezagueia temporalmente, como de costume hoje, o livro é habilmente roteirizado pra se livrar de procrastinações e reiterações. Isso implica mudanças nas ações e o resultado é uma película decente, que não traz nada de novo ao Nordic Noir (por que deveria fazê-lo se sua fonte é medíocre?), mas trabalha bem seus clichês.

Melhor ver The Absent One do que ler A Caça: pelo menos é bem mais rápido e em duas horas está tudo acabado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário