quinta-feira, 27 de setembro de 2018

TELONA QUENTE 255



Roberto Rillo Bíscaro

Os asilos de Madalena existiram entre o século XVIII e o final do século XX e eram chamadas de casas de "mulheres perdidas". Estes locais operaram por toda a Europa e América do Norte (mas parece que quem arcou com o grosso da fama foi a Irlanda) e abrigavam mulheres com deficiência física e mental, rebeldes, mães solteiras e suas filhas, vítimas de estupro e aquelas que se acreditava possuir caráter duvidoso, como as prostitutas. O primeiro asilo foi fundado em 1765, por Arabella Denny, na capital da Irlanda. A instituição recebeu o nome inspirado em Santa Maria Madalena, que segundo a compreensão católica, se arrependeu de seus pecados e se tornou uma das mais fiéis seguidoras de Jesus Cristo.
Em 2014, foram encontrados 800 esqueletos de bebês em apenas uma dessas casas de misericórdia e caridade, na Irlanda e filmes como Philomena chamam a atenção para a ilha. Indefensáveis as tais irmãs de caridade que perpetraram tanto sofrimento, mas a madre superiora dum desses asilos virulenta e certeiramente culpa toda a sociedade, que, com suas hipocrisias morais e religiosas empurrava suas mulheres e crianças “sujas” pra detrás daqueles muros e depois pagavam de chocadas, quando as barbaridades eram descobertas.
Esse tapa na cara é dado em The Devil’s Doorway (2018), longa de estreia da irlandesa Aislinn Clarke. Apesar de não ser grande filme, Clarke é nome pra se ficar de olho, porque há potencial. Provavelmente pra driblar questões orçamentárias, o formato escolhido foi o do found footage film, mas a novidade é que se trata dum filme de época.
Em 1960, 2 padres vão a um convento investigar estátuas lacrimejantes da Virgem. Father John é o jovem que filma tudo e está excitado e sedento por um milagre; tanto por questões de fé, mas dá pra sentir o tino comercial e a vaidade do que isso significaria. Father Thomas, como indica o nome, não acredita em mais nada, devido aos descalabros presenciados em nome da religião. Quando contatam uma menina endemoninhada no porão, o velho padre tem que reconsiderar seu materialismo.
Crer na existência do sobrenatural é tema recorrente em filmes de horror, afinal, do fantasmagórico depende a existência do subgênero. The Devil’s Doorway funciona como versão found footage d’O Exorcista, do qual repete todos os procedimentos e maneirismos aos quais acrescenta a correria de câmera balouçante e imagens truncadas dos found footage.
Ser de época também impõe dificuldade. Se já fica difícil crer que alguém manteria câmera ligada, enquanto tenta salvar sua própria pele, imagine isso com o trambolho pesado que devia ser o equipamento de quase 60 anos atrás. Além disso, apesar de tratadas, a imagem que vemos tem resolução boa demais pra ter tanto tempo e gravada em maquinaria tão “primitiva”.
Malgrado isso tudo, The Devil’s Doorway tem excelente interpretações de Lalor Rody e Helena Bereen, raridade em found footage films e mais, um roteiro! Muitas produções desse sub-subgênero solavancam em mais de um sentido, e pronto.

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