quinta-feira, 19 de julho de 2018

TELONA QUENTE 245

Roberto Rillo Bíscaro

John Doe provavelmente começou a ser usado nas cortes e tribunais da Inglaterra do século 14, para satisfazer formalidades técnicas do judiciário: era o nome dado ao arrendatário denunciante na ação de desapropriação. Hoje, nos EUA é utilizado pra designar cadáveres/suspeitos de identidade desconhecida e seu feminino é Jane Doe.
É precisamente uma dessas defuntas anônimas, que cai nas mãos do experiente legista Tommy e de seu filho-assistente, em The Autopsy Of Jane Doe (2016), primeiro filme em inglês de André Øvredal, diretor norueguês que ganhou renome internacional com o divertido Trollhunter (2010), eficiente contribuição escandinava ao sub-subgênero dos found footage films.
Øvredal fez claustrofóbico horror com praticamente apenas duas personagens, movendo-se em pequeno necrotério subterrâneo, em intervalo de poucas horas. Aristóteles aprovaria. Tommy e Austin se preparavam para encerrar a maratona de autópsias ao som de rock’n’roll, quando o xerife aparece com uma morta nua, cujo corpo não apresentava sequer um arranhão. Mas, quando o bisturi corta, as coisas se complicam.
A Autópsia, como conhecido no Brasil, não é para estômagos delicados e em seus dois primeiros atos cria suspense e intriga com maestria. Isso até mais ou menos um sensacional momento de corte, lá pelo quadragésimo-quinto minuto.
Depois disso, perde um pouco da originalidade. Há alguns clichês e o rigor formal autoimposto cobra seu pedágio: contando apenas com o par protagônico, a explicação para o mistério brota em longo monólogo expositivo, como se a personagem tivesse tido epifania.
Nada disso compromete a diversão de The Autopsy Of Jane Doe, que ainda se permite o luxo de ser filme B com excelente atuação de ator do calibre de Brian Cox.

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