quinta-feira, 26 de julho de 2018

TELONA QUENTE 246


Roberto Rillo Bíscaro

A reação mais interessante à resenha do russo Leviatã foi dum Faceamigo dizendo que ficara curioso, mas que parecia por demais deprimente pra ver durante a crise generalizada, pela qual passa o Brasil. E quem pode culpá-lo por querer evadir-se no tempo e no espaço, bem à moda do Romantismo? Quem não está enjoado/enojado de ministros de supremo com boca de sapo?
Dia desses, achei pequena e defeituosa válvula de escape nos recônditos da Netflix. Nem título em português deram pra Jag älskar dig - En skilsmässokomedi
(2016). Google me disse que a tradução é algo como “Te Amo – Uma comédia de divórcio”. Na verdade, ele me contou em inglês, eu que traduzi livremente pro português.
Depois de anos num casamento cujo amor e tesão evaporaram, Marianne abandona o marido Gustaf, advogado previsível, com óclinhos de Woody Allen e que não a enxerga.
Esse é o mote pruma comédia romântica pedestre, mas que cumpre mais do que a função de nos subtrair da sórdida política nacional tomada por trambolhos com cara de vampiro trash. Além de apresentar gente bela, lindas paisagens de Estocolmo no outono/inverno, Jag älskar dig - En skilsmässokomedi nos mostra que “desenvolvidos” podem fazer bobagens tão grandes como as detratadas em nosso cinema. Isso não é pra desestimular ver a película. Vi até o fim e me diverti, mas há que se ter o senso crítico desperto, mesmo quando se quer fugir.
Jag älskar dig - En skilsmässokomedi existe numa Estocolmo ideal, onde as personagens andam de táxi o tempo todo, como num filme de Woody Allen, e a trilha-sonora é cópia escarrada do padrão hollywoodiano pra esse tipo de produção.
Como é sueca, a comédia é desinibida pra com nudez masculina e as roupas de frio são lindas. Tudo vai redondinho, num roteiro onde todo mundo não passa de esboços. Do meio do nada, o cara diz que reencontrou a mãe que não conhecia. Deu pra sacar na hora quem seria, o que aconteceria etc.
Pra ver sem pensar, espiar a linda capital sueca, pra despressurizar que, é, afinal, uma das funções desses filmes que mostram pessoas largando empregos pra terminarem um livro e não se preocupando com dinheiro. A gente vê, se projeta neles um pouco, fica com vontade de “seguir o sonho”, mas na manhã seguinte volta pro trampo com metade do filme já esquecido.

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