quinta-feira, 5 de julho de 2018

TELONA QUENTE 243


Roberto Rillo Bíscaro

Sem dúvida e merecidamente, Iuri Gagarin desfruta do status de herói da humanidade, afinal, foi o primeiro homem a viajar pelo espaço, em abril de 1961, a bordo da Vostok 1.
À época, porém, o mundo vivia a tensão da Guerra Fria entre capitalistas e comunistas e a façanha soviética incomodou ainda mais os norte-americanos, já mordidos de raiva e assustados, porque seus inimigos Vermelhos havia posto o primeiro satélite artificial a orbitar nosso planeta, em 1957.
A faceta de corrida e de batida no peito pra mostrar macheza ao rival não passa batido em Gagarin: o Primeiro no Espaço (2013), disponível na Netflix.
O filme intercala sequências preparatórias, da execução e do desfecho do histórico voo com episódios da infância e juventude do cosmonauta. Muito rapidamente, alude-se à gambiarrice do programa espacial soviético, que, seis anos mais tarde marcaria novo recorde pro país: Vladimir Komarov tornar-se-ia a primeira vítima de programas espaciais, quando seus restos carbonizados espatifaram-se na tundra, após missão fadada ao fracasso, na qual supostamente Gagarin seria escalado não fosse a voluntariedade de Komarov. Não adiantou muito poupar o herói nacional, porque no ano seguinte ele morreu, quando o avião que pilotava caiu.
O filme é bem-feito e consegue prender, mas não se pode esquecer por nenhum segundo que foi parcialmente financiado pelo estado russo e aprovado pela seletiva e protetora família do cosmonauta. Isso implica na descrição de Iuri como ser especial, meio ingênuo. É o herói apolíneo; um Homem Com Uma Missão, como cantava o Kid Abelha, há 35 anos. Nada que o cinema norte-americano já não tenha feito zilhões de vezes.  
Assim, Gagarin faz sorrindo o duro exercício de cabo de guerra no treinamento; meio que salva seu irmão Boriska dum soldado alemão pirado e, quando resiste sem esforço aparente a um duro teste de pressão gravitacional, ouve-se a técnica soltar um “esse é um homem de verdade”. Difícil segurar a gargalhada.
Igualmente difícil não se contagiar com a alegria do povo nas ruas celebrando e se entusiasmar com a aventura. Pena que não seja um Gagarin empatizável, porque distante demais. Se não soubéssemos que a missão daria certo, tenho dúvidas de que nos importaríamos com o ser-humano dentro da capsula. Culpa do roteiro que o desumaniza, mesmo que o mostre brincando com o filho ou dando flores pra esposa. Mas, é por demais evidente que é mais personagem de propaganda e não um homem com o qual possamos nos identificar.

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