terça-feira, 10 de julho de 2018

TELINHA QUENTE 317


Roberto Rillo Bíscaro

The Inbetweeners jamais poderá ser acusado de aguar a rudeza do humor inglês. Os 18 episódios das 3 temporadas estão disponíveis na Netflix e são pra quem não tem pudores de rir do politicamente incorreto, escatológico ou explicitamente estúpido e pueril. O que começou como comédia perdida no mar de importados norte-americanos do acanhado canal E4, em 2008, transformou-se num fenômeno cult de massa, termo que soa anacrônico mas descreve aqueles produtos não tão massivos quanto Friends, mas não tão minúsculos. The Inbetweeners está no meio até na recepção. Não virou carne de vaca, mas garantiu a maior audiência pro E4 até hoje, com um episódio de 2010, ano de sua derradeira temporada. Acho que midcult é a expressão uma vez usada em inglês.
Quando a mãe de Will se divorcia, o esnobe adolescente com sotaque de classe média-alta, paletó e gravata e pasta 007 na mão, tem que se transferir pruma escola pública, onde sua nerdice atrai toda sorte de assédio moral e bullying. Ostracizado e humilhado, os únicos amigos que Will consegue são os eternos perdedores ostracizados e humilhados Jay, Simon e Neil. As desventuras desses 4 adolescentes suburbanos – interpretados por atores já adultos, como sempre – são o tema de Inbetweeners, cujo nome em inglês é uma alusão ao fato de teens não serem crianças nem adultos, estão na metade do caminho, então, querem se comportar como maduros, mas ainda possuem tantos traços infantis.
A cada episódio, o narrador Will narra uma cagada do bando. Não se assustem com a explicitude e heterodoxia de cagada numa resenha; essa molecada só faz merda e a série não se intimida em fazer piada com deficientes físicos ou professores pedófilos ou pais gays, aludir à morte de animais, botar adolescentes falando da forma mais nojenta possível sobre sexo, usar toda sorte de fluidos e excreções corporais pra fazer humor.
The Inbetweeners é jorro incessante de palavrões e obscenidades que apelam pro nosso sentido de humor mais vulgar. E, menino, como funciona! Eu chorava de gargalhar a ponto de ter que dar pause pra não perder nada. Na verdade, escrevendo isto, dei umas risadas relembrando o mentiroso compulsivo Jay, as risadas patetas de Neil, a tirania amargurada de Mr. Gilbert (o Ken Thompson, de Cuckoo).
Pros mais antigos entenderem melhor: The Inbetweeners funciona como um Anos Incríveis do inferno. Will – à moda de Kevin Arnold – é o narrador, mas ao final, ao invés da edificação pedagógica de Wonder Years, os garotos da série britânica não aprendem nada, ou melhor, até há uma relação do que aprenderam, mas é sempre coisa que não presta. É baixaria, mas não é hipócrita, porque nas sitcoms do “bem” as personagens sempre “aprendem” algo, mas passam temporadas repetindo erros e cagadas, afinal, a mentira de que aprenderam algo tem que ser mantida. Há quantas temporadas Modern Family – que é uma boa série, não entendam mal – insiste que Jay precisa mostrar mais seus sentimentos? Ele “aprende” em um episódio apenas pra na temporada seguinte ter que “aprender” de novo.

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