segunda-feira, 23 de julho de 2018

CAIXA DE MÚSICA 324


Roberto Rillo Bíscaro

Um leitor reclamou que eu dava espaço pra menos famosa Tamar Braxton e nenhum pra mana Toni. De fato, resenhei os álbuns Calling AllLovers e Bluebird Of Happiness, de Tamar, e, a parte Un-Break My Heart, pouco conheço de Toni Braxton. Em minha defesa, a diva noventista não lançava solo desde 2010 (o trabalho de 2014 foi com Babyface) até ressurgir dia 23 de março, com o conciso Sex and Cigarettes.
(Bem) Passado seu ápice comercial (o único primeiro lugar do álbum foi na parada britânica de R’n’B, e isso significa nada), Toni Braxton não veio interessada em inovar sonoramente. As 8 faixas apresentam produção conservadora à anos 90/década passada. São baladas de muita sofrência, cantadas com sua voz que de quando em vez enrouquece. Apoiadas em piano e/ou violão, a faixa-título e Deadwood são pra ouvir dramatizando muito. Long As I Live tem clima mais arejado, meio de soul jazz funkeado, bem FM descolada d’outrora. Tem o easy listening de Sorry e a sem-gracice de My Heart. Coping ensaia virar dançável durante todo seu tempo, promessa que só se concretizará na derradeira Missin’, que mesmo assim, não é nenhuma locomotiva dance.
A única novidade é que Toni Braxton entra pro time das divas bocas-sujas, que falam “bitch” e “motherfucker”. Na esparsa FOH (Fuck Outa Here), a base sônica é familiar, mas a sofrência vem com chuva de impropérios. 
Ao contrário das Braxton que estão sempre sob holofotes, Krishunda Echols é praticamente invisível. Sua página no Facebook não tinha 800 seguidores, quando escrevi esta postagem e seu álbum I Miss You, lançado no início do ano, tem produção bem humilde. Não lembro como me deparei com ele, mas dá pra conferir no Spotify, CDBaby, enfim, quem pesquisa, acha.
Quem cresceu/adolesceu nos anos 80, ao som de Gregory Abbott, Rockwell, Nu Shooz, ou os Jermaines Jackson ou Stewart vai se sentir em casa com a simplicidade pop soul de I Miss You. As canções brejeiras, como a percussiva Wiggle e Let´s Party falam de como é bom festar e dar, como em Last Night, onde canta “rock me all night long/like my back ain’t got no bone” Eita!
Quando é pra sofrer, tem até copioso choro no final, como no puro melodrama de How Can This Be. Get Through To You saiu do mesmo tecido que deu ao mundo canções como For Your Babies, do Simply Red e Hold Me In Your Arms, do Rick Astley, só que a produção tem menos dindim. O funk de Give It Up enfurecerá feministas, porque volta praquele tempo em que as negras exortavam as colegas a colocarem seus homens no trono e tratá-los como reis, desistindo de si mesmas.




Adriana Evans passou infância imersa em jazz e música caribenha, devido à origem e/ou profissão de seus pais. Vivendo na cosmopolita San Francisco, o influxo musical incluiu soul, rock e, mais tarde, em Los Angeles, Evans conheceu melhor o mundo hip hop. Um vozão e tantas influências resultaram em carreira musical rica, embora pouco valorizada comercialmente.
Talvez por essa falta de reconhecimento, Evans tenha se refugiado no Brasil após seu primeiro álbum (1997). A estadia por aqui se faz presente em sua música, que não vem frequentemente desde 2010. Em novembro do ano passado, saiu apanhadão chamado Lost And Found, com (re)mixes, versões alternativas e instrumentais (as 3 últimas, a parte mais chatinha dum álbum delicioso).
As nove faixas restantes, porém, são paraíso pra fãs de quiet storm, jams do final dos 70’s, urban soul, enfim, povo retro-soul em geral, que não resistirá a delicias como Distant Lady ou o dueto Candy Man. To Know You vem em versão soul pra depois ressurgir em uma soft rock, que derreterá o coração de quem se recorda de Rita Coolidge, Nicolette Larson e Juice Newton. Hey Now tem aquela vibração Club Tropicana, pra deslizar por calçadões à beira-mar ipanêmicos ou franceses. Midnight In Mantanzas agregará fãs de acid jazz aos admiradores de Adriana; enquanto a guitarrinha Nile Rodgers, de Summertime, trará à bordo, os fãs do velho Chic. Cold As Ice é funkeada, mas calma e o remix de All For Love aponta como a música brasileira influencia Evans, embora não seja o único exemplo no álbum.

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