sexta-feira, 13 de julho de 2018

PAPIRO VIRTUAL 127


Roberto Rillo Bíscaro

Desde o fim do ano passado, tenho lido sobre discos-voadores e filmes de ficção-científica dos anos 1950. Já resenhei uma dissertação da PUC-RS e outra da UNICAMP sobre os avistamentos de OVNIs no Brasil cinquentista, além duma tese britânica sobre a recepção de filmes sci fi na época.
Como minhas monomanias são mutáveis, interrompi o ciclo com dissertações/teses sobre rock brasileiro dos anos 70, a influência da Rede Globo na MPB setentista, o Clube da Esquina e o branqueamento da Música PopularBrasileira.
Monomanias em sucessão, voltou a dos anos 50, quando achei Welcome to Mars: Politics, Pop Culture, and Weird Science in 1950s America, pra comprar a preço módico via Kindle. Não se trata de estudo acadêmico, daí talvez resvalar pra teoria da conspiração, de vez em quando. Escrito pelo britânico Ken Hollings - colaborador de revistas como Wire e palestrante, além de broadcaster – a década de 50 para ele, vai de 1947 a 59. Segundo Hollings, a quebra da barreira do som e a construção das primeiras unidades do condomínio Levittown assinalam mudança de paradigma: a classe média abandona as “perigosas” cidades para a atomização suburbana e os céus passam a ser cada vez mais escrutinados, a Força Aérea mais badalada e, não por coincidência, o fenômeno dos discos-voadores toma conta do planeta.
O caráter conspiratório de Welcome to Mars advém de tentar, diversas vezes, ligar pontinhos que não necessariamente foram pingados pra serem conectados. Dá a impressão de que há uma engenharia social rigorosa e premeditada regendo todos os díspares eventos relacionados. Óbvio que há um zeitgeist, relacionando as coisas, e fascina mesmo perceber quão informalmente militarizada era a sociedade norte-americana: o presidente era militar, assim como o presidente da associação nacional de psiquiatria (cada vez mais influente) e as justificativas pra construção dos condomínios e freeways. Dá medinho mesmo.
Tomando o cuidado de não imaginar planos ilumináticos, a miscelânea de fatos e anedotas reunidos em Welcome to Mars é fascinante, hilariante, assustadora. Testes radioativos e de drogas feitos com populações inconscientes de serem cobaias; proposição de usar detentos como os primeiros homens no espaço; psiquiatras e médicos, cujas teorias e métodos muito se assemelham aos cientistas malucos dos filmes de baixo orçamento da década.
Não se trata de análise profunda de nada, muito menos dos filmes, a profusão de informações daqueles anos de explosão de consumo; do isolamento suburbano suportado com vendas recordes de calmantes e álcool; de abrigos nucleares sendo vendidos por empresas e de militares e gente da ciência falando muito absurdo sobre energia nuclear e OVNIs faz de Welcome to Mars leitura quase obrigatória pra fãs de cultura pop em geral, mas especialmente daqueles anos doirados.

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