sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

PAPIRO VIRTUAL 121



Roberto Rillo Bíscaro

No início dos anos 1950, a febre de avistamentos de objetos luminosos no céu atingira proporções tão grandes que até em comunidades desconhecedoras da palavra disco-voador, pescadores imaginavam-se engolfados por iluminação vindo do firmamento, em forma de garrafa. Nada surpreendente, porque luzes inexplicáveis têm sido vistas desde tempos imemoriais. A “novidade” do decênio cinquentista foi batizá-las de disco-voador e atribuir-lhes origem extraplanetária, de inteligências mais inteligentes (que perderiam tempo vindo aqui só pra fazer manobras de esquadrilha da fumaça ET nos céus?!).
A ideia pra dissertação de mestrado de Milton José Giaconetti foi o relato do pescador catarinense que viu a luz em forma de garrafa. O historiador quis estudar a construção do imaginário popular a respeito das Luzes no Céu, transformando-as de possíveis armas de destruição fabricadas na comunista URSS do “malvado” Stalin (como se depreende do texto de Giaconetti) em espaçonaves alienígenas. Alguém deveria apontar o sentido de despolitização e desistorização desse processo.
O resultado da pesquisa encontra-se no texto As luzes no céu e a guerra fria: Do limiar do conflito ao imaginário sobre os discos voadores 1945-1953, defendido na PUC-RS, em 2009.
Usando o contexto da disputa nem sempre tão velada entre EUA e URSS, depois da Segunda Guerra, o historiador construiu um texto que serve muito mais como bom panorama da Guerra Fria pra quem não lê inglês do que propriamente pra esmiuçar o tal imaginário da comunidade pesqueira de Santa Catarina, que ganha poucas páginas e olha que os 2 pescadores entrevistados falam coisas bem interessantes, sobre como as Luzes foram interpretadas. Não inserida na histeria midiática promovida pela revista O Cruzeiro, os moradores pensavam que podia se tratar de assombração e, mais fascinante ainda, vingança dos alemães pela derrota na Guerra.
Mas, como meu interesse tem sido conhecer mais fatos do que intepretações, a dissertação faz isso bem. A gênese e evolução dos anos iniciais da Guerra Fria, da Guerra da Coreia e da primeira onda de avistamentos de OVNIs nos EUA e Brasil estão bem traçada.
Às vezes, há quê de teoria conspiratória, por exemplo, quando se pergunta se a liberação dos arquivos secretos sobre investigação de UFOs pelo governo britânico não seria maneira de desviar a atenção do público pra crescente crise do capitalismo, em 2008, mas o que filtrei foi o fato, não a suposição, aliás, baseada em nada; complicado num trabalho acadêmico.
Também há que ser paciente com a redação, que precisava ter passado por revisor de texto. Quanto “o mesmo”, “ a mesma”; isso é desnecessário! E o poliusado “ao qual”, que substituía qualquer pronome relativo! E errado ...
Em termos analíticos, a dissertação de Rodolpho Gauthier Cardoso dos Santos é superior, mas pra entender melhor o que foi a Guerra Fria, enfim, para a parte dos fatos, As luzes no céu e a guerra fria: Do limiar do conflito ao imaginário sobre os discos voadores 1945-1953 complementa muito bem.
É fascinante ver como até autoridades militares no Brasil davam declarações do tipo “daqui a 30 dias comprovar-se-á a existência de vida em marte”. Realmente o pessoal levava o tema dos discos a sério, e isso não foi descontextualizado, ressoou com a atmosfera de perigo nuclear e início da corrida espacial da época.
A dissertação pode ser baixada em PDF. O link e o resumo estão no link:

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