terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

TELINHA QUENTE 298

Roberto Rillo Bíscaro

A Escandinávia adora pagar de boazinha, tipo o Starbucks, mas como a franquia de café, o preço sai caro, seja pra países africanos que recebem lixo eletrônico dinamarquês ou onde quer que se produzem as armas suecas proibidas de serem fabricadas em seu território.
A minissérie Nobel (2016), que no original norueguês tem o subtítulo “paz a qualquer preço”, dá algumas indiretas a respeito de como a Noruega outorga prêmios da paz, se autodeclara nação pacífica, mas consegue ser um dos países mais prósperos, lucrando no selvagem e sujo em mais de um sentido capitalismo petrolífero.
Disponibilizada na Netflix em novembro – até com dublagem em português – Nobel foca em Erling Riiser, que volta a Oslo depois de servir no Afeganistão, num grupo ultrassecreto do exército norueguês. Mas, um fio solto da missão afegã resolve dar curto e Erling tem que agir na quieta e pacífica Oslo, ocasionando reação que incluirá jornais e principalmente o ministério das relações exteriores, onde trabalha sua esposa Johanne.
Oscilando entre Noruega e Afeganistão (Marrocos, na verdade), Nobel aponta os malabarismos diplomáticos pra não desagradar chineses ou mesmo setores do Talibã; programas humanitários que miram desenvolvimento sustentável, desde que a Noruega consiga petróleo, e conceitos como guerra simétrica, porque, afinal a Noruega tem alma boa e não poderia usar armas muito superiores a de seus adversários, embora as que use sejam muito melhores e seus soldados treinados com precisão milimétrica.
Nobel é interessante, mas seria mais eficiente se tivesse menos de 8 capítulos: a história às vezes se arrasta sem causar suspense, porque a ação dramática está bem diluída.
Numa mesa-redonda na Inglaterra, uma produtora de Borgen contou que a TV estatal dinamarquesa só deu sinal verde ao show, quando teve a garantia que o conteúdo político seria equilibrado com o pessoal, pra não entediar a audiência. Nobel usou o mesmo estratagema, mas de modo menos eficaz, porque a provável crise entre Erling e sua esposa permanece irresoluta. Na área das relações interpessoais, o único que funciona bem é o relacionamento entre pai e filho. Não porque suscite algo a mais pra trama, mas, porque através das perguntas inocentes da criança, o roteiro questiona alguns pilares da riqueza e política externa do país nórdico.
Que a Netflix disponibilize cada vez mais séries escandinavas, mas o expectador que fique de sobreaviso: Nobel é mais cerebral do que visceral.

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