quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

TELONA QUENTE 223

Roberto Rillo Bíscaro

Destino Lua (também conhecido como A Conquista da Lua) foi considerado o primeiro filme inteligente de ficção-científica, por Isaac Asimov. A produção independente, de 1950, teve orçamento alto e explosão de cores Technicolor, raros entre os tantos filmes sci fi dos 50’s. Também atipicamente preocupado com acuidade científico-tecnológica, Destination Moom teve seu esmero recompensado com Oscar de efeitos visuais.
Destination Moon é caprichado desde os créditos iniciais, que rolam pela tela em direção ao infinito, como faria Guerra Nas Estrelas, 27 anos depois. Lembram como George Lucas foi deveras influenciado pelos filmes da década?
Tudo começa com a explosão dum foguete patrocinado pelo governo, que perante rejeição da opinião pública com os gastos e perigo de óbitos, se exime de prosseguir com o programa espacial. Cabe a um general convencer um industrial patriótico a persuadir seus colegas empresários a construírem um foguete pra lua. Reticentes no início, os capitalistas são convencidos com argumento bem simples e mais explícito impossível: a primeira nação que conquistar a lua dominará a Terra, pois poderia usar nosso satélite natural como base pra lançamento de mísseis. Destination Mooon esclarece que dissenção da imprensa é orquestração ideológica e que a iniciativa privada deve liderar a corrida espacial por motivos puramente patrióticos, lucros jamais são citados. Muito como os argumentos reais usados na parte documental da recente docussérie Marte, da NetGeo. 60 anos se passaram mesmo?
Apesar de jamais poder ser enquadrado como tal, Destino Lua é avô do docudrama Marte (disponível na Netflix), com o qual compartilha mais em comum do que o aludido. Destination Moon buscou assessoria científica, então, há até animação do Picapau explicando facilmente o sistema de propulsão à explosões de um foguete e as dificuldades causadas pela gravidade zero. Até se mostra que o som não se propaga no espaço, quando o pássaro tenta falar, mas a acuidade vai pro espaço, quando abre a porta da espaçonave sem despressurização, mas pra acusar o filme seria necessário saber se a ciência já sabia que o ar escaparia todo e isso não posso afirmar.
Embora Destino Lua seja bastante correto com o que se conhecia na época, ainda assim era um filme direcionado a fazer dinheiro e entreter, então liberdades tinham que ser tomadas e isso implicou em sua maior barbeiragem: a inclusão do alívio cômico Joe, que nada alivia, só complica.
Falar na imprensa que se era contra a corrida espacial era “ideológico”, mas escalar piloto que não acreditava na viagem à lua não representava problema, afinal, os EUA são a terra da liberdade de expressão. Joe funciona um pouco como o público, uma vez que algumas dúvidas de leigos são ventiladas através da personagem, cujo nome é o mesmo do da expressão “regular Joe”, caracterizadora do mais mediano que um sujeito anglófilo pode ser. Joe toca até gaita, olha o tamanho do clichê! Mas, imagine que alguém que desconheça até mesmo o mais geral das viagens espaciais seria escalado pruma missão assim! Ele poderia colocá-la em perigo, como o faz no episódio da antena externa. Claro que isso possibilita andada pelo espaço, o que deve ter sido maluco pras plateias cinquentistas, mas tira um pouco da credibilidade, embora não manche o status de clássico de Destination Moon.
O que pode ter passado despercebido pra muita gente é que a construção linguística desviante e algo ignorante de Joe acaba passando mensagem bem menos simpática: quem não acredita na possibilidade da exploração espacial é apenas jecas estúpidos, que precisam ser convencidos da maneira mais concreta possível, porque só assim conseguem entender. Considerando-se que Joe era o elo com o público “comum”... tire suas conclusões.
O bonachão, Joe, porém, não poderia estar melhor encaixado no prospecto otimista em que se enquadra a película, que enxerga a energia atômica como motor da exploração espacial. Em “boas mãos” (no sentido de apenas duas mesmo: as dos EUA) essa energia manteria a paz na Terra, que - com apoio patriótico das empresas e a boa vontade otimista de aprender de seus cidadãos “comuns” – se lançaria na árdua, mas perigosa conquista do espaço. Terra = EUA, tá? E a lua seria apenas o começo, como atesta o letreiro do The End, então afixado em todos os filmes. Neste lê-se “este é O FIM...do início”. Assertividade empreendedora nível hard.
Destino Lua tem lentidão de lesma pros padrões contemporâneos, mas pra fãs de ficção-científica “séria” é marco obrigatório de ver.

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