terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

TELINHA QUENTE 296



Roberto Rillo Bíscaro

No final de março de 2017, o ciclone Debbie fez estragos na Austrália e entre suas vítimas um tubarão arrastado pela tormenta e encontrado numa estrada de terra. Fãs não perderam tempo em correlacionar o destino do pobre animal com os tornados tubarônicos de Sharknado, fenômeno trash-cultural, que desde 2013 despenca na metade do ano nas telas do SyFy Channel. Credibilidade entre fãs de ficção-científica o canal não tem, porque, convenhamos, não dá, né?
Mas, Sharknado virou icônico; o equivalente do século XXI àqueles absurdos filmes de animais assassinos dos anos 50 ou 70.  Todo mundo achava que Sharknado seria mais uma película de baixo orçamento com desconhecidos ou celebridades decadentes/esquecidas a passar despercebido. Engano. A proposta foi tão infame que gerou comentários no Twitter e a coisa virou massiva. Em agosto, saiu Sharknado 5: Global Swarming, anunciado como final da franquia. Semana passada a Netflix disponibilizou-o em seu catálogo sob o título Sharknado 5: Voracidade Global.
Com os EUA devastados depois de tantos tornados tubarônicos, o fenômeno fatal alastra-se globalmente, daí o trocadilho do título em inglês com aquecimento (warming) global e a palavra swarming, que implica num enxameamento, numa infestação. Sharknado 5, como todo pastiche, é repleto dessas piadinhas, de referências e citações. Mas, cuidado, porque um menininho não perde a chance de dizer “London Bridge is falling down”, quando a tempestade detona a capital inglesa. Uau, intertextualidade com a canção infantil, que pós-modernidade ressignificadora! Só que a ponte ruindo era a Tower Bridge...
Indiana Jones, 007, De Volta Para o Futuro, uma coleção de velharias é referenciada, além da presença das celebridades de outrora, que sentirão falta dos Sharknados pra aparecer um pouquinho e faturar trocados. Tem a oitentista Samantha Fox; a disco music trash-diva Charo, com rosto desfigurado de tanta plástica e massa-corrida, fazendo ponta sem fala, como Elizabeth II e Olivia Newton-John como cientista. Quando esta vê 2 personagens se beijando, dispara: don’t get too physical, ok?” Intertextualidade com seu sucesso de quase 40 anos. Eta lê lê.
Até o Rio de Janeiro é assolado por um sharknado.  Por mais espertamente (SQN) intertextual que seja, Sharknado apresenta a Cidade Maravilhosa como qualquer filme dos anos 50 faria: ao som de música caribenha, com casario praticamente colonial e, mais sintomaticamente, onde ocorre o único assalto do filme.
Hoje vemos Sharknado mais pra ver quais celebs serão resgatadas do limbo do que propriamente pela diversão, porque quantas variações são possíveis com tubarões caindo do céu de boca aberta sobre pessoas? Apesar de marketeado como capítulo final, Sharknado dá brecha pra continuação. Dependendo da audiência desse, vamos ver se o SyFy cumpre a promessa. 

Erra quem crê que esse tipo de filme hoje em dia restringe-se a produções pra TV. Lançamentos pra cine ainda existem e até em 3-D. Caso do fraco Shark Night, de 2011. Sete universitários vão passar fim de semana à beira dum lago e enquanto são devorados, descobrem um grupo maluco que filma pessoas sendo comidas por distintas espécies de tubarões. A ideia é ganhar dinheiro com a multidão de gente doentia que vê tais vídeos pela internet. Até valeria como crítica social, mas a execução é burocrática e as mortes são poucas e não legais.
Só serve mesmo pra empedernidos fãs de trash movies, que curtem se divertir com incongruências tipo: tubarões alcançam pessoas fazendo esqui aquático, mas não nadando!
Vocês já repararam que na pós-modernidade, humanos podem morrer a mancheia nas telonas e linhas que ninguém se importa, mas experimenta jogar um cãozinho no tanque dos tubarões! Ele reaparece no fim, afinal, gostamos mais de pets do que de gente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário