quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

TELONA QUENTE 215


Roberto Rillo Bíscaro

Grosso modo, os anos 1950 foram marcados pela explosão de consumo da abundância norte-americana do pós-guerra e pelo crescente pavor anticomunista e nuclear. A malvada e ateia URSS poderia facilmente destruir o modo ianque de vida e por isso as escolas repetiam com frequência táticas de proteção em caso de ataque atômico. Um vídeo hilariante aconselhava as pessoas a se encolherem como tartaruga; duck and cover!


Esse ambiente foi propício e fundamental para o florescimento da ficção-científica, já bem estabelecida na pulp fiction. Houve explosão de filmes sobre missões intergalácticas, invasões alienígenas e monstros agigantados atomicamente. O documentário Watch the Skies!: Science Fiction, the 1950’s and Us saiu em 2005, ano em que Steven Spielberg lançava refilmagem dum desses clássicos B: A Guerra dos Mundos, baseado no livro do britânico H. G. Wells. O título Watch The Skies foi tirado do solilóquio final do jornalista em The Thing From Another World (1951), um dos mais respeitados filmes do subgênero produzidos na década. Vencido o alienígena que ameaçava os habitantes dum centro de pesquisas no Ártico, o repórter passa pelo rádio a história a seu editor. Ele diz que a batalha foi vencida, mas a guerra, não e admoestava os ouvintes a sempre olharem pro céu, em busca de invasores.  
Não foi coincidência que no ano em que um dos diretores contemporâneos mais adorados e poderosos lançou releitura de obra cinquentista, Watch The Skies (WTS) tenha conseguido reunir George Lucas, Ridley Scott, James Cameron, além de Spielberg, claro, para analisarem os filmes sci fi dos “anos doirados” que mais lhe influenciaram. E como narrador, Luke Skywalker em pessoa, ou seja, Mark Hamill.
Peça ou não de potente marketing, isso não deve afugentar curiosos pelo tema: Watch The Skies é competente e informativa cartilha comentada, que chega a informalmente tipificar as manifestações cinematográficas. De vez em quando, um diretor ou outro localiza na infância conclusões difíceis de crer que sacadas por um garoto, mas isso pouco importa também. Independentemente de quando as metaforizações foram feitas, são sempre pertinentes, adicionando camadas interpretativas às tramas. O comadrismo dos diretores só derrapa, quando Spielberg se pergunta (claro que ele sabia que Lucas responderia!) se um dos robozinhos de Guerra Nas Estrelas era baseado no autômato de Planeta Proibido (1956). Ah, me poupe, né Steven! Qualquer fã mínimo sabe que Robby, The Robot modelou o de Perdidos no Espaço, porque projetados pelo mesmo cara, Robert Kinoshita. Você deveria ter perguntado se foi “acaso” que os hoje icônicos créditos iniciais subindo pela tela em direção ao infinito, sejam iguais aos usados em Destination Mooon, de 1950.  
Mas, isso é perdoável, porque o documentário cobre bastantes filmes, com informações de produção, além de comentários certeiros, tipo, como os militares estavam em alta, porque haviam surrado os alemães, os vilões mais frequentes da ficção-científica da década eram os cientistas. A relação dúbia com a ciência não escapa aos inteligentes comentadores: ao mesmo tempo que era capaz de produzir maravilhas, seus efeitos colaterais podiam gerar aranhas ou escorpiões gigantes.
Se você entende inglês não deixe de ver; é muito elucidativo. Não apresentou nenhum filme que eu não conhecesse (mas daí, escavei tanto essa década que acho não sobrou muito pra descobrir), mas despertou desejo de rever vários, além de apresentar possibilidades interpretativas não pensadas.

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