sexta-feira, 1 de março de 2013

PAPIRO VIRTUAL 47


Roberto Rillo bíscaro

Prefiro que contato com alienígenas não aconteça enquanto me encontrar neste planeta. E se os ETs representarem pros terráqueos o que os europeus significaram pros ameríndios?
Parece que o inglês H. G. Wells compartilhava meus temores. Li A Guerra dos Mundos (1898), cujo famoso e copiado enredo é sobre uma invasão marciana na Terra. Durante 2 semanas, a Inglaterra – simbolizando o mundo – é aterrorizada pelos invasores, que fugiam da extinção devido ao esfriamento do planeta vermelho.
Século depois, ainda notamos o legado de Wells no mundo da ficção científica. Lembram-se da cena em Independence Day (1996), na qual um grupo que dava boas vindas aos alienígenas é frito? The War of the Worlds tem uma igualzinha quase.
Na virada do século XIX pro XX, a mecanização estava bastante incompleta, mesmo na adiantada Inglaterra. Sujeito viajava de trem de Londres a Manchester, mas ia de charrete da estação pra casa. A restrita condição de possibilidade de Wells pra pensar mais ciberneticamente torna a leitura muito curiosa em nossa era internética. São raios de calor e fumaças negras venenosas dos marcianos, combatidas com armas humanas carregadas em lombo equino. Isso sem contar a inexistência de foguetes (nem avião havia ainda na época): os Vermelhos vêm à Terra em capsulas disparadas por um tipo de canhão, desde Marte! E o alumínio é o máximo em termos de metal.
Os textos políticos de H. G. Wells mostram um crente na supremacia branca, que chegou a afirmar que negros e amarelos pereceriam na ordem natural evolutiva. Darwin e Spencer gritando!
Na Guerra dos Mundos nem os superiores brancos (ironia ligada) merecem crédito, porque os invasores não são derrotados por engenho humano. Wells e Augusto dos Anjos tinham muita fé no poder dos vermes e bactérias!
A falta de agência expressa no tema obviamente encontra expressão formal e o narrador é interessante exemplar de protagonista que protagoniza nada, apenas vê a ação passar ou dela foge ou se esconde. Tá mais pra testemunha do que protago.

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