quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

CONTANDO A VIDA 216


HORÓSCOPO: 2018

José Carlos Sebe Bom Meihy

Adeus ano velho. Xô 2017. Vai tarde. Eita ano difícil!... Até para acabar, 2017 dá trabalho. Mas há de virar. Pelas perspectivas, porém, não é plausível garantir que o “novo tempo” seja mais fácil ou melhor. Tomara que a boa saúde de todos compense o “pouco dinheiro no bolso”. As possibilidades positivas são remotas e, em troca, as expectativas assustam, pois, além de tudo teremos Copa do Mundo e eleições. A continuidade dos escândalos políticos se mistura com o desequilíbrio dos três poderes que, aliás, apresentam-se a cada dia mais “desempoderados” e distantes do povo. Num esforço adivinho nos é permitido supor alguns lances mostrados à guisa de horóscopo imaginário.


JANEIRO: calor e chuvas com deslizamentos que atingirão comunidades pobres. O ano começará com o fracasso do governo na tentativa de recuperar algum prestígio. Apesar das férias escolares e do natural esvaziamento provocado pelo verão, as bases sindicais tentarão articular campanhas que, contudo, não emplacarão. Nova edição do BBB apresentará facetas do gosto público pelos vexames transmitidos pela Rede Globo (negros, velhos e trans estarão representados, reafirmando mitos: da democracia racial, tolerância etária e de gênero); 

FEVEREIRO: mais calor e chuvas torrenciais. O Carnaval será magnífico, mesmo sem a ajuda das diversas prefeituras. A celebração do centenário do Cordão do Bola Preta arrastará milhões de pessoas pelas ruas do centro do Rio, justificando ser aquele “o maior bloco carnavalesco do mundo” (ainda que os pernambucanos contestem, afirmando que o Galo da Madrugada seja imbatível). A Campanha da Fraternidade será anunciada, mas sua duração precária se apagará logo devido a superposição de problemas urgentes reportados pela mídia. Políticos se rearranjarão para disputas eleitorais, e uma série de denúncias será propagada pelas redes sociais. O almejado alento de harmonia pelo ano novo já terá se dissipado, dando lugar a mais ódio e ameaças;

MARÇO: as águas do mês famoso pelas chuvas se mostrarão ameaçadoras. Na arena cultural, muito há de se falar sobre os 50 anos dos eventos de 1968. No final do mês, a fração democrática fará crítica aos “anos de chumbo”, e a crescente onda ultraconservadora defenderá as causas reacionárias, ligadas também aos segmentos que pretendem converter o país em imensa igreja;

ABRIL: a Semana Santa motivará movimentação mostrada como inigualável pelo governo que insistirá em convencer a população iludida pela recuperação econômica, apagando a certeza de que ela é fato exclusivo das grandes empresas e dos bancos que atingirão lucros nunca revelados. Em nível eleitoral, novos escândalos serão revelados;

MAIO: os preparativos para ida da Seleção à Rússia quase ofuscarão os debates políticos. As ruas começarão a se colorir com bandeirinhas e embalos exagerados, mas explicáveis pela lei da compensação psicológica. O técnico Tite será o nome mais citado em todas as mídias. O frio não afugentará as torcidas organizadas e as acusações políticas serão trocadas por cenas de apoio esportivos;

JUNHO: o país vestido de verde e amarelo encarnará uma identidade fantasiosa e como nunca se cantará “sou brasileiro, com muito orgulho”... Os temas ligados ao preconceito racial, machismo, distâncias sociais e demais mazelas ficarão encolhidos ante a euforia do campeonato do mundo. Apesar do bom desempenho, o Brasil que tão bonita campanha fará, não se sagrará, mais uma vez, campeão. No dia 18, alguns jornais noticiarão o centenário do nascimento de Nelson Mandela e as festas juninas se estenderão pelos meses seguintes;

JULHO: mês de férias escolares e pleno envolvimento do país na crítica à seleção de futebol que foi modestamente recebida nos aeroportos. Denúncias políticas ocuparão os noticiários fartos de explicações pelo fracasso esportivo.

AGOSTO: a disputa eleitoral retomará fôlego, e as agressões dos candidatos refletirão na população que, como nunca, mostrará os riscos dos extremos. Como se tivéssemos uma esquerda, os “direitistas” abusarão do palavreado de terror para amedrontar a todos. O típico pessimismo do “mês dos cachorros loucos” se revelará nas pesquisas que apontarão a “vitória da oposição”, como se existisse alguma. Apologistas do apocalipse político acenarão com possibilidade de intervenção militar. Os fundamentalistas religiosos começarão a movimentar seus fieis, orientando formas dogmáticas de votação;

SETEMBRO: a velha lenga de que podemos virar uma Venezuela chegará às páginas dos jornais, que serão preenchidas com alusões quase terroristas. Alguns temas aventados ao longo do ano, contudo, permitirão que novos nomes sejam apontados como promessas políticas, mas para futuro pleito. Cá e lá repontarão artigos lembrando que o avassalador surto de Gripe Espanhola grassara o Brasil há cem anos;

OUTUBRO: sempre o mês mais difícil do ano, nessa oportunidade exibirá ainda mais complicado. As eleições ocorrerão com as usuais reclamações, e mesmo com as urnas eletrônicas denunciadas por fraudes, os resultados serão comemorados como “novo tempo”. A “vitória da oposição” não explicitará grandes mudanças. O cansaço do primeiro turno será intensificado imediatamente com novas/velhas alianças;

NOVEMBRO: já cansado, o ano mostrará sinais de fadiga. A segunda fase eleitoral, cumprirá o enredo das repetições que iludem o eleitorado que votará como sempre. No dia 4, depois do anuncio do novo presidente, o horário de verão vai começar. Aos poucos, se iniciarão as musiquinhas de Natal e as campanhas de vendas mudarão os temas sociais gastos pelo teor exaustivo do ano. “Então é Natal” começará a ser ouvida progressivamente. Os ódios levemente aplacados terão teores trocados, evidenciando mais do mesmo;

DEZEMBRO: num esforço para esquecer as agruras do ano, amaldiçoando o andamento do “ano velho”, renovando o estoque de votos de felicidades, o último mês do ano revigorará a mania de desejar “feliz ano novo”... E novo horóscopo será feito na certeza de que o melhor do ano foi a garantia que teremos para depois de 2019 uma nova geração de políticos.


De toda forma, vale pensar que os horóscopos sempre são contrariados. Tomara que este acerte na esperança e erre nos titubeios ilusórios que garantem que “este é um país que vai pra frente”.

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