quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

CONTANDO A VIDA 214

REDES SOCIAIS: velhos e jovens.

José Carlos Sebe Bom Meihy

Diria que em termos de calendário, o ano corrente (que envelheceu sem dar mostras que há de cair de podre), lentamente mudará em ideias, assinalando apenas a variação cronológica de 2017 para 2018. As expectativas são sombreadas de pessimismos, e não convém afastar os gravames de um ano eleitoral que não se enxuga de falcatruas, escândalos, e lances escusos. Certamente, teremos expostas diferenças assustadoras que, infelizmente, dimensionam ódios incontidos, recalques arraigados, achaques agressivos, porque não conseguem se renovar em essência. Não basta, contudo, identificar os sintomas em suas planuras reveladas por manifestações que percorrem redes sociais, notícias de jornais e até afetam convívios íntimos. Qualquer diagnóstico mais consequente demanda combinar causas arcaicas com novos modos de expressão. Ainda não assimilamos o impacto das tecnologias e, quase sempre, aproveitando facilidades, consagramos enfermidades incrustradas em insatisfações que, sinceramente, não dizem muito de projetos que precisam nascer. E a voz no coletivo, o tal semianonimato, sem mostrar o rosto ou a responsabilidade da interlocução argumentativa, faz amanhecer o pão nutritivo da troca de ideias, da ventilação de opiniões e mobilidades. E como é resistente, petulante, inflexível a firmeza da raiva política! Dói muito dizer, mas o mundo está dividido e o que é pior, sob o fado de extremar-se ainda mais.
E não vale apenas dizer que a corrupção é sistêmica, que os maus políticos são históricos, ou que as eleições resolverão o problema se votarmos “certo” (entendendo como “certo” os nossos candidatos). Junto com a resistência dos problemas, há recursos que merecem cuidados conceituais que, se compreendidos, podem favorecer entendimentos. Por lógico, não se almeja saudar consensos, mas é desejável o favorecimento de diálogos mais inteligentes do que o ataque cego e polarizado. Partamos do suposto que reza virtudes na alteração de posicionamentos. Por que não mudar? Por que não pensar nos argumentos contrários, se expostos de maneira outra que não o ataque? Ah! que saudade da metamorfose ambulante. Ambulante, porque variada, conformada com as demandas do mundo moderno.
O discurso racional está saturado e não mais se sustenta. A lógica construída em argumentos esticados do passado padece de furos consequentes e ocasiona vazios. É exatamente aí que se abrigam os argumentos carcomidos pelo passadismo. Sem admitir mudanças nos meios de comunicação, por exemplo, corre-se o risco de se manterem binarismos que não mais se explicam. A sociedade é dinâmica e reclama por consciência disso. O mundo se organiza, com os novos modelos de comunicação, em redes, mas, de que elas valem se insistirmos nos mesmos pregões? O plural é o desejo maior da democracia que precisa trocar ideias e permitir pertencimentos, integração, participação amplíssima. Não vale mais o “certo/errado”, “bonito/feio”, “bom/mau”. Basta um giro rápido pelas redes sociais para ver como, sob o jugo da modernização, se colocam em causas velhas proclamações que, aliás, assumem os fatigados supostos passados como critérios para futuros. A velocidade alucinante permitida pelos trilhos da internet (e agora da realidade ampliada) ainda conduzem as cargas azaradas pelos argumentos pretéritos. O mundo mudou e precisamos mudar com ele. E que sejam o diálogo e a instrução livre os ponteiros de bússolas navegantes. Chega de dogmas e fundamentalismos.   
Mas, haveria esperança? Pode-se admitir algum otimismo? Ou, pelo contrário, há de prevalecer a eletrônica atualizada em uso nas mãos de velhos que não se renovam e não a entendem, por embrutecidos que se tornaram? Creio no porvir. Com força, acredito que a nova geração saberá lidar com o mundo em rede e promoverá os avanços necessários para uma vida social mais justa. A noção de “novo mundo” se anuncia por meio de concepções libertárias da padronagem que ainda insiste em grassar nos segmentos que não aprenderam com a realidade horrível que nos cerca. Que fiquem avisados, diga-se, que alguns direitos humanos são irreversíveis. As mulheres, os racialmente segregados, os gêneros sexualmente reconhecidos, são arautos de um novo tempo, melhor, porque mais tolerante e flexível. Democrático. Em conjunto, grupos silenciados emergem e, tomara, que eles saibam lidar com o atraso e resistência da grande parte da “ velha” classe média brasileira. E que as redes sociais se constituam em reais teias de solidariedade e respeito.
Vivemos uma era de mudanças. Tudo parece ruir. Caem os tais “valores” antes fixos, estáveis e acomodados em cinismos e hipocrisias. Paradoxo das mudanças, é bom que assim seja. É bom que tenhamos ciência de que por mais insistentes que sejam os teores odientos, na medida da inexorável conexão do mundo, aprenderemos a lição fatal: os jovens estão em rede. Bem-vindos os não jovens que fiam nessa trama. 

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