segunda-feira, 2 de julho de 2018

CAIXA DE MÚSICA 321


Roberto Rillo Bíscaro

Em 1978, Maurício Maestro (contrabaixo e vocal), Zé Renato (violão e vocal), Cláudio Nucci (violão e vocal) e David Tygel (viola 10 cordas e vocal) formaram o Boca Livre, que já naquele ano participou do disco "Camaleão", de Edu Lobo.
Sem atrair as grandes gravadoras, o grupo lançou de forma independente, no ano seguinte, o LP Boca Livre, que ultrapassou a vendagem de cem mil cópias, marco inédito na música independente da época, com destaque para as canções Toada e Quem Tem a Viola. Tocou tanto que até hoje sei a letra de Toada. As harmonias vocais do Boca eram incríveis e ainda me encantam as influências de Bossa Nova e Clube da Esquina.

Em junho de 1980, Claudio Nucci anunciou carreira-solo e ano seguinte saiu seu álbum de estreia. Ele fez sucesso nas rádios na primeira metade da década com canções como Quero-Quero, Acontecência, Pelo Sim Pelo Não e A Hora e a Vez, embora à época dessas duas últimas, 1985, eu fora cooptado por Duran Duran, Phil Collins e odiava Roque Santeiro, novela das quais foram trilha.
O pop brasileiro varreu das FMs praticamente toda a geração da virada dos 70’s pros 80’s, a não ser os que se adaptaram meio bregamente, como Zizi Possi e Fafá de Belém.
Desconectado da música nova de Nucci, jamais deixei de ouvir os “clássicos” de minha puberdade e sabia de lançamentos. Agora, até ouço as de Roque Santeiro, embora menos do que Levezinho ou qualquer outra do primeiro álbum, porque os arranjos nele são bem mais orgânicos. 
Há muitos anos sem lançar álbum autoral, Claudio Nucci apresentou dezena de composições novas no álbum Integridade: parcerias com Felipe Cerquize, produção independente, lançada em março. Cerquize é poeta e compositor carioca; responsável pelas letras que agradarão em cheio aos amantes da MPB dos trocadilhos, aliterações e jogos de palavras. A letra de Rio de Março, samba ipanêmico duetado com Zelia Duncan, é um dos exemplos mais requintados da proficiência do letrista, demonstrando a relação de amor/ódio pelo/para com o Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, Rio degenerou, Rio regenera)
Integridade é predominantemente sambado: 9 faixas exploram elementos do ritmo nacional, podendo ir desde o samba com toques antilhanos dados pelo piano de Antônio Adolfo, em Certeza, ao samba-fossa, de Sempre Só, dueto com Lenine, com direito à sax tenor e tudo. Olhos D’Água meio que une a ruralidade do Boca Livre ao sorriso e à flor bossa-novista, até porque Roberto Menescal participa.
Fluente na linguagem sambista, Nucci reserva o único momento longe do subgênero para um encantador dueto com seu filho Vicente. Sentimentos é tapeçaria de cordas e gaita, de folk MPB. Acaba se destacando da dezena de novidades, não apenas pela beleza intrínseca, mas pela própria diferença das demais.
Integridade não é apenas o nome de seu mais recente álbum; mas descreve sua carreira como um todo, por manter-se fiel ao que considera música boa e bem-feita. Tomara que Claudio Nucci não passe outros vinte anos sem soltar material próprio.

Um comentário: