terça-feira, 30 de dezembro de 2014

TELINHA QUENTE 147


Roberto Rillo Bíscaro

Em 2009, Elizabeth Strout recebeu o Pulitzer pela coleção de contos Oliver Kitteridge. Este ano, a HBO juntou histórias e personagens e criou elogiada minissérie homônima em 4 capítulos, que vi em 2 sentadas.
Contada sem linearidade temporal, mas sem desnortear o espectador, Olive Kitteridge percorre episódios da vida da personagem-título, que vive com marido e filho numa pequena cidade costeira do frio Maine.
Tudo muito comum: infância do filho, atração do esposo de meia-idade por uma funcionária bem mais jovem, amor de Olive por um colega de trabalho, casamento do rebento, nascimento do neto. Mas o olhar lançado a esses fatos e o teor das personagens tornam a minissérie um complexo minipainel (paradoxo proposital) psicológico. Olive, a personagem, é daquelas mulheres-estereótipos da dureza Puritana temperada com alguma doença psicológica da modernidade. Viperina, seca, generosa, inclusiva, exclusiva, remota, devota, depende da ocasião, mas nunca meiga e fácil de se lidar/ gostar, com seus constantes arrotos.
E não é que roteiro e Frances McDormand, numa interpretação merecedora de Emmy, evitam que tomemos repulsa pela personagem? Percebemos os defeitos, notamos o porquê dalguns traumas e sofrimentos. Isso pode não fazer com que empatizemos com Olive – isso seria prejudicial ao efeito do show -, mas a compreendemos, mesmo que talvez prefiramos tê-la longe ou pelo menos em distância segura, apenas pro caso de precisarmos pralguma emergência.
Interessante constatar que Henry, o maridão com seu eterno otimismo e frases feitas ianques (insisto, o fato de a trama se passar no Norte Puritano faz diferença); Denise e sua perene aparente insegurança; a segunda esposa do filho e sua familiaridade forçada, temperada com pseudo-calma compreensiva de psicanálise e todo mundo mais são tão estranhos quanto Olive, embora com graus menores de exteriorização e maiores de aceitação social. Olive Kitteridge, a minissérie, é pra ser vista diversas vezes, porque há muitas nuanças no diálogo e até mesmo na paleta de cores (reparem nas roupas da personagens e nas cores do Maine).
O elenco está perfeito, mas, claro que minha baba de fã caia mais copiosa quando Richard Jenkins aparecia, especialmente bastante no primeiro capítulo.
Imperdível. 

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