sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

PAPIRO VIRTUAL 85



Roberto Rillo Bíscaro

Quando se pensa no norte-americano Jack London é quase certeiro associá-lo a contos Naturalistas como Call of the Wild ou White Fangs. Sua atuação Socialista e as obras ficcionais embasadas nessa teoria são geralmente esnobadas pela crítica como panfletárias e/ou de qualidade duvidosa. Li o romance Martin Eden (1909), que apresenta protagonista que rejeita o socialismo em favor das teorias de Herbert Spencer, inglês que ligou Darwin à teoria social e percebia a sociedade como lócus onde apenas os mais fortes sobrevivem.
Eden é um marinheiro brutamontes que salva o universitário Arthur duma briga. Fingindo estar agradecendo – ele queria mesmo chocar a família – o mancebo convida seu salvador pra jantar na sua refinada residência classe-média. Durante o jantar, Martin apaixona-se por Ruth, estudante de Artes na universidade. Na perspectiva de classe, o correto é afirmar que o rapaz cai de amores pelo polimento de maneiras, vocabulário e cultura que encontra no ambiente e que considera infinitamente superior ao da classe operária.
Bem ao gosto Naturalista, London pinta a atração mútua entre Martin e Ruth com os cheiros da atração física, mas sem esconder a faina reformista da moça que no início nada mais quer do que refinar o marinheiro e o desejo de Martin em ascender àquele mundo percebido como perfeito, harmonioso, sem defeitos.
Martin decide tornar-se escritor e é esse processo de aprendizagem – que por vezes empresta ares de Poética ao romance –, de busca por reconhecimento como escritor e de crescente sentimento de alienação que torna a obra tão interessante.
A alienação não ocorre somente em relação à classe trabalhadora. Quando Ruth dá sinais de que acha fúteis os esforços do aprendiz de escriba e começa a ficar pra trás intelectualmente, a idealização do refinamento burguês começa a ruir na cabeça de Martin.

Deslocado em diferentes ambientes sociais e crendo tenazmente na saída única do individualismo, o que restará ao protagonista?

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