Tony Gilroy dirigiu e escreveu o filme 'O Legado Bourne', de 
2012
 
 
Tony Gilroy é um dos roteiristas mais cotados de Hollywood, por 
causa de sucessos como Armageddon (1998) e O Advogado do Diabo 
(1997). Ele ganhou o Oscar de melhor roteiro original com Conduta de 
Risco, em 2007. 
A BBC perguntou a ele qual é a chave para escrever e ser bem-sucedido no 
centro da indústria cinematográfica americana. Estes são seus dez conselhos:
1. Consuma cinema
Não acho que se aprenda muito com cursos ou livros. Quem vai ao cinema desde 
pequeno encheu a vida de narrativas. É algo que está na área mais profunda do 
ser.
Ir ao cinema, ter algo a dizer, ter imaginação e ter a ambição de fazê-lo é 
realmente tudo o que se precisa. O resto se aprende.
2. Invente histórias, mas que sejam reais
Escrever roteiros é um trabalho de imaginação. Nós, os roteiristas, 
inventamos histórias. Tudo o que tenho na vida é resultado de ter inventado 
muita coisa.
Mas há algo que se deve compreender bem e que faz a diferença: o 
comportamento humano.
A qualidade da história está diretamente relacionada com a compreensão do 
comportamento humano. É preciso se transformar em um jornalista para o filme que 
está tentando criar em sua mente. É preciso investigar, fazer reportagens... 
cada cena tem que ser real.
3. Comece com uma ideia modesta
As grandes ideias não funcionam. Comece com uma ideia pequena que possa ser 
expandida.
Com a saga dos filmes Bourne, eu nunca li os livros (uma trilogia de 
Robert Ludlum), preferi começar do zero. 
 
Gilroy diz que roteiristas precisam 'viver a vida' para que 
possam ter algo a dizer
 
 
A premissa simples do personagem Jason Bourne é: "eu não sei quem sou, nem de 
onde venho, mas talvez eu possa me definir através do que sei fazer".
Construímos todo um universo a partir desta pequena ideia. Isso começa 
modestamente e vai sendo construindo passo a passo. É assim que se escreve um 
filme para Hollywood.
4. Aprenda a conviver com a sua invenção
Meu pai era roteirista, mas não existe um "gene criativo e boêmio" na nossa 
família.
Aprendi a observar o quão duro ele precisava trabalhar, e compreendi o tempo 
que rege a vida de um escritor. É preciso escrever nos momentos de 
inspiração.
Se você vive com outras pessoas, elas aprendem a não se assustar ou se 
queixar destes ritmos criativos.
5. Escreva para a TV
É cada vez mais difícil fazer filmes bons. Mas nas produções de televisão, é 
possível encontrar a ambiguidade e os tons cinza de realidade. É aqui que as 
histórias podem se tornar interessantes.
Muitos roteiristas estão bastante entusiasmados com a televisão no momento, e 
é um negócio controlado por escritores. Quando os roteiristas estão no comando, 
sempre há coisas boas na televisão.
Eles são mais racionais, trabalham mais duro e são mais benévolos também.
Quando os escritores comandam o entretenimento, o negócio funciona. Talvez 
agora vejamos a TV se convertendo em uma utopia guiada pelos roteiristas.
6. Aprenda a escrever em qualquer lugar, a qualquer 
momento
"Na minha carreira, já ocupei as duas posições 
do 'Kama Sutra de Hollywood': tanto por cima como por baixo."
Tony Gilroy, roteirista e 
diretor
 
 
 
 
 
 
Eu tenho um escritório na minha casa, mas já escrevi em milhares de quartos 
de hotel. É preciso escrever em toda a parte.
Se estou feliz com o que escrevo, não quero parar. Agora que sou mais velho e 
mais sábio, não me prendo ao fato de meus escritos estarem fluindo ou não. 
Telefono para casa, digo que não vou chegar para o jantar e sigo 
trabalhando.
Mais do que nada no mundo, eu desejo continuar tendo vontade de ir ao 
escritório, sem medo de trabalhar.
7. Consiga um emprego
Eu passei seis anos trabalhando em um bar enquanto tentava entender como 
escrever roteiros.
Se você quer escrever, se é jovem e ninguém o conhece, busque um trabalho que 
pague a maior quantia de dinheiro possível 
com a menor quantidade de horas possível, para que você tenha uma boa parte do 
dia para escrever.
Trate de viver em alguns lugares onde possa ter acesso a boas conexões 
culturais, onde possa ver muitos filmes e conhecer muitas pessoas. E trate de 
achar um lugar onde possa simplesmente escrever, escrever, escrever.
 possível 
com a menor quantidade de horas possível, para que você tenha uma boa parte do 
dia para escrever.
Trate de viver em alguns lugares onde possa ter acesso a boas conexões 
culturais, onde possa ver muitos filmes e conhecer muitas pessoas. E trate de 
achar um lugar onde possa simplesmente escrever, escrever, escrever.
8. Viva a vida
Se você não tem nada para dizer e não viu nada mais do que um punhado de 
filmes, sobre o que você vai escrever? Só se pode contar aquilo que se 
conhece.
Busque se interessar por uma grande quantidade de coisas, temas e pessoas, e 
mantenha-se interessado. Meu conhecimento é muito 
amplo, ainda que incrivelmente superficial, porque não sinto falta de mais.
Costuma ser muito mais interessante uma história escrita por um jornalista, 
por um policial ou por um banqueiro do que algo vindo de alguém que estudou 
cinema por 20 anos.
Há exceções, é claro. Mas quase sempre é o caso de "se você não tem nada para 
dizer, para que está aqui"?
 é muito 
amplo, ainda que incrivelmente superficial, porque não sinto falta de mais.
Costuma ser muito mais interessante uma história escrita por um jornalista, 
por um policial ou por um banqueiro do que algo vindo de alguém que estudou 
cinema por 20 anos.
Há exceções, é claro. Mas quase sempre é o caso de "se você não tem nada para 
dizer, para que está aqui"?
9. Não se mude para Los Angeles
 
Los Angeles não é um bom ambiente para jovens roteiristas, diz 
Gilroy
 
 
Eu não acho que exista um motivo de peso para se morar em Los Angeles (centro 
da indústria cinematográfica americana).
Eu acredito que L.A. é um lugar muito ruim para alimentar a mente. Em Los 
Angeles, as pessoas passam grande parte do tempo dentro de carros e rodeadas de 
outras pessoas deprimentes.
Não acredito que Hollywood seja uma boa vizinhança para um escritor jovem, 
isso não vai lhe ajudar a sentir qualquer tipo de emoção.
10. Resista e siga em frente
Na minha carreira, já ocupei as duas posições do "Kama Sutra de Hollywood": 
tanto por cima como por baixo.
É importante aprender a lidar com as quedas e rejeições. Acho que um dos 
motivos pelo qual os roteiristas são tímidos é que estamos todos sempre 
suspeitando dos nossos processos, já que ele fracassa com frequência.
Não é nada diferente do que acontece com romancistas, compositores ou 
pintores. Quando o mundo externo te rejeita, a pessoa decide superar isso ou 
deixar-se vencer.
Mas acredito que os dias mais difíceis são aqueles em que nada acontece. 
Todos os que já tentaram escrever alguma vez sabem bem do que estou falando.
O bom é que não há nada que não se cure com um bom dia de 
trabalho.