segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

CAIXA DE MÚSICA 59



Roberto Rillo Bíscaro

Desde meados do ano passado, Lana Del Rey - que pousa de femme fatale anos 50 – causa frêmitos na indústria do entretenimento. Amor e ódio pela moça abundam.
Surgida a partir dum vídeo que se alastrou rapidamente pela web, a norte-americana tem sido criticada pelos lábios falsos em um clipe, pelo cabelo fake em outro. Adorada pela excelência pop de Video Game, canção que chamou a atenção do mundo.
O marketing comeu solto pra criar expectativa pro primeiro álbum por uma grande gravadora. Não passava dia sem alguma notícia sobre a moça.
Shows agendados e lotados, “vazamento” de faixas, matérias sobre as influências e possível pré-fabricação de Lana (a moça assinou contrato com uma agência de modelos), o fiasco na apresentação ao vivo no Saturday Night Live, a recuperação no talk show de David Letterman, além das declarações de Lana, revelando problemas passados com álcool. Hoopla, hype...
Born To Die, lançado há algumas semanas alcançou o topo das paradas em diversos países. Claro que o resultado frustrou quem esperava uma obra-prima e o álbum teve reações mistas de críticos.
A sonoridade cinquentista – retrabalhada pra gostos do século XXI - tem bastante espaço em Born To Die, que apresenta uma cantora capaz de variações vocálicas e passeia por estilos que beiram o trip hop e até tenta um tiquinho de rap (não se assustem, odiadores do estilo, é bem sutil).
Video Games é o destaque, como se esperava. Parte da expectativa era que Lana se saísse com outra pérola do mesmo calibre. Talvez isso jamais aconteça; a intensidade da canção provavelmente assombrará seu repertório para sempre.
Muitos lugares-comuns da década de 50, com suas mulheres dependentes e apaixonadas por cafajestes, como em Off To The Races, que, a despeito da temática soa contemporânea com seus vocais variando de mulher devastada por cigarro e bebida a uma fresca Lolita (na edição de luxo, há uma canção com esse nome, aliás). A instrumentação gigantesca, com sua percussão eletrônica marcada e orquestração luxuosa (que marcam boa parte do álbum), a faixa envolve o ouvinte num mar de ficção barata, dependência e sensualidade. Puro fetiche.
A faixa-título tem ecos de The Crying Game, último suspiro de Boy George que o mundo se importou em prestar atenção. Ser derivativo é tônico pra Born To Die. National Anthem abre parecendo Bittersweet Symphony, do The Verve.  
O álbum serviria muito bem como trilha sonora dalgum projeto de David Lynch. Ameaçador, sombrio, perversamente sexy, falsamente retrô, algo bizarro, com clima de cabaré alemão pseudo-expressionista e, como todo o trabalho do diretor, no fundo, tudo pose, pura butique. Basta ouvir Radio pra perceber como o cerne da bagaça é popinho...
O excesso de Born to Die é seu pecadilho mortal pra muitos. Como gosto de certos exageros, continuo súdito de Lana Del Rey.  

3 comentários:

  1. Robert,
    sua resenha ficou ótima. Rica análise!
    Parabéns!
    Geso Jr.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. uma crítica sobre esta cantora (estadão, se nao engano)um tanto depreciativa, nao despertou-me interesse em ouvir suas canções/voz. o peso da crítica direcionada, por incrivel, me fez "a cabeça". sua resenha com análise nada tendenciosa e bem feita. ok, vc me convenceu!

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