segunda-feira, 4 de julho de 2011

CAIXA DE MÚSICA 39

Muito Mais do Que a "Nova Karen Carpenter"


Basta dar uma sacada nesses programas televisivos que tentam revelar futuros ídolos pra perceber que os calouros acreditam que quanto mais berrarem, mais famosos e divos serão. O critério pra vitória deve ser no medidor de decibéis! Não que não aprecie uma boa gritaria; mas temos de convir que caixa torácica avantajada muitos possuem. Agora, virar Loleatta Holloway é pra seletos.

Sorte que sempre tem gente na contramão. É o caso de Rumer, nascida no Paquistão, filha de ingleses. Ao invés de se esgoelar, a moça canta mansa e aveludadamente. Quietinha, já papou fãs como Burt Bacharach – herói confesso da moça – que a convidou para cantar em sua mansão californiana. Resultado: Rumer tem várias indicações pro Mojo Awards deste ano.
Ano passado, ela lançou seu primeiro álbum, Seasons of My Soul, aplaudido pela crítica. Rumer pode ser anglo-paquistanesa, mas suas raízes musicais são o easy listening norte-americano dos anos 30 aos 80 e algum soul anos 60. Carole King e Dusty Springfield estão no mapa genético musical de Rumer.
Laura Nyro influencia nas composições e vocais, basta conferir a música de abertura, Am I Forgiven? Vocalmente, porém, a semelhança em algumas faixas com a trágica Karen Carpenter é assombrosa. Parece que a vocalista dos Carpenters ressuscitou de sua morte anoréxica pra cantar via Rumer. Slow é prova disso.

Antes de ser mera cópia ou xodó retrô, Rumer tem personalidade. Espere até ela cantar a frase “but there’s a blackbird singing”, em Blackbird. Nyro e seu gospel estão lá, junto com Karen, mas quando Rumer canta a frase citada é como se as portas do paraíso se abrissem. Pura epifania.
As letras são de amor ou confessionais. Qualquer um que tenha tido infância/adolescência complicada cairá de paixão por Aretha, soul-bacharach, onde Rumer canta sobre alguém que se refugiava no som da diva Aretha Franklin pra escapar das barras pesadas. Acho essa música a cara da etérea Gwyneth Paltrow!    
A matriz easy listening pode ser explicitamente ouvida na seleção de covers (algumas presentes apenas na De Luxe Edition). Ela supera David Gates, do Bread, na setentista Goodbye Girl e não faz feio na oitentista It Might Be You, de Stephen Bishop, que fica mais delicada. Só não bate Dione Warwick, em Alfie (de Mestre Bacharach, quem mais?!), mas não estraga a canção.  
Em tempos em que programas de TV fabricam pseudo-cinderelas e muita gente acredita que a farsa é real, Rumer vem suave e com qualidade provar que no final das contas, são as fadas que têm o poder de encantar. 

3 comentários:

  1. Ha Roberto; que lindo. o mundo precisa mais disto ! Miguel

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  2. Oi, Roberto! Gostei de você lembrar e comparar a fábricas de "artistas" horríveis que a tv vem fazendo com a naturalidade de se tornar um ídolo. Eu vi aquele vídeo que você me passou o link da Rummer e até gostei! É uma música tranquila, não irrita, por isso ouvível. Comparar com a Karen? Vai, dessa vez eu deixo, rs, porque a Rummer veio nos salvar desse mundinho de Beyonceé e etc...
    Adorei o post! Assino embaixo ;)
    bjs

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  3. ola Robert, nao tem como nao ser redundante....deliciosamente gostoso ouvi-la....lembra K. Carpenter....mas as divas músicais sao únicas, cópia sempre é de má qualidade........o trecho q vc citou - blackbird- é belo....bjs

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