Roberto Rillo Bíscaro
È certo que muito da crescente valorização da velhice – eufemisticamente denominada “terceira” ou “melhor idade” – vem da necessidade capitalista de explorar novos nichos de consumo. Crianças, animais de estimação, deficientes, tudo vira fatia de mercado. Com expectativa e qualidade de vida em ascensão, os idosos tornaram-se valiosos consumidores.
A minirrevolução sexual viagreira mudou o comportamento de muita gente, que passou a desfrutar mais da sexualidade, mas também aumentou a incidência de HIV no grupo dos sexagenários. Prós e contras.
A despeito das mudanças comportamentais, segue o preconceito contra os idosos e sua sexualidade. Tem gente que ainda se escandaliza ou recusa a crer que sexo seja importante e efetivamente ocorra entre idosos. É como se após certa idade, o indivíduo parasse de desejar e tivesse que se contentar em ser apenas vovô ou vovó.
E a questão do corpo maduro, então? Na era dos físicos siliconados ou modelados no bisturi, rugas e flacidez são percebidas com horror. Então, atinge-se um paradoxo: idosos são livres e estimulados a consumir, desde que escamoteiem ou não exibam os sinais da madureza.
Apesar do título hiperbólico, gostei da comédia espanhola La Vida Empieza Hoy (2010), precisamente porque aposta na sexualidade do corpo e da psique de septuagenários e, de quebra, diverte.
Com roteiro de Alicia Luna e Laura Mañá, e direção desta última, o filme, entre picante e terno, está centrado em um grupo de idosos inscritos em um curso sobre sexo, oferecido por uma academia de ginástica. 3 ou 4 histórias paralelas permeiam a trama, que corre fluida, com apenas alguns instantes meio estagnados pelo meio do filme, mas nada comprometedor.
Temos a velha amarga que aos poucos vai desabrochando para a autoexploração corporal (Pilar Bardem, impagável). A viúva que vive com a filha solteirona - uma se prendendo por causa da outra – mas inicia um caso com um expatriado argentino. O casal maduro, cujo entediado marido recém-aposentado mantém uma amante até que sua esposa descobre o caso e resolve deixar os netos sob os cuidados de quem os pariram e começa a apimentar a vida a 2.
Sem cair no escracho ou utilizar os anciãos como motivos de riso per se, La Vida Empieza Hoy oferece com picardia alguns pontos de vista que para muitos são escandalosos, como a possibilidade de um relacionamento baseado na sexualidade e respeito, mesmo que não movido por juras de amor romântico eterno, afinal, como diz a personagem, ela já vivera (e sofrera) essa fase.
Ainda se percebe que a exibição de nudez do corpo masculino é menos problemática e tabu do que a do feminino, mas a diretora consegue uma linda sequência final, onde todos os velhinhos se esbaldam de prazer. Bom pra eles.
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