terça-feira, 1 de setembro de 2009

FOLHA UNIVERSAL

Dia 16 de agosto, outro importante jornal brasileiro, a Folha Universal, abriu espaço pra divulgar a causa albina. Em excelente matéria, a jornalista Andrea Dip entrevistou diversas pessoas com albinismo, bem como especialistas no assunto. Confira o texto:

BRANCO TOTAL
Sem pigmentação na pele ou nos pelos, brasileiros albinos contam como driblam o preconceito

Por Andrea Dip
andrea.dip@folhauniversal.com.br

Quando se digita a palavra “albinismo” em um site de relacionamentos
na internet, a primeira comunidade que aparece é “Albinos são do mal”. A descrição do grupo,
que conta com quase 2 mil integrantes, diz: “Em todo filme que um (albino) aparece, ele pode não ser o assassino, mas mata alguém.” O preconceito descabido nas telas aparece também em um estudo feito por uma organização de pessoas com albinismo nos Estados Unidos, que contabilizou dezenas de filmes que retratam albinos como vilões, psicopatas,
paranormais e esquisitos. Mas a coisa vai muito além do cinema. Que o diga a universitária
Andrezza Cavalli, de 29 anos. Ela e dois irmãos nasceram sem qualquer vestígio de melanina (pigmento que dá cor à pele) no corpo e nos olhos. Aos 5 anos, eles tiveram de sair de uma escola municipal porque o bullying (agressões verbais ou físicas) estava se tornando
insuportável. Conforme foram crescendo, as piadinhas e os apelidos maldosos passaram
a incomodar ainda mais. “Já me chamaram de fantasminha, branquela, e acho que a
pior lembrança que tenho é a de quando procurava uma vaga de emprego e a atendente
me olhou de cima a baixo e disse que eu ‘não tinha o perfil’”, lamenta. E ela não
está sozinha. Estima-se que haja um albino a cada 40 mil pessoas no mundo, apesar de
existir um portador do gene a cada 100 pessoas. Nos quatro cantos eles sofrem preconceito.
O albinismo é uma doença genética que acontece quando a pessoa herda dos pais genes
alterados que não permitem a produção de uma enzima responsável por transformar a melanina
no corpo, dando cor à pele e pelos e que protege da radiação ultravioleta. “Se a pessoa nasce com esse erro genético, ela não produz ou produz pouca melanina, o que deixa a pele e os cabelos esbranquiçados e que interfere também na visão”, explica Salmo Raskin, presidente da
Sociedade Brasileira de Genética Médica. Ele diz que a visão é a mais prejudicada,
justamente por essa falta de proteção aos raios solares, que gera o nistagmo (quando
os olhos não focam a imagem). Por isso, devem sempre usar protetor solar e óculos escuros.

Dificuldades
Albinismo não é uma doença contagiosa e, ainda que possuísse qualquer deficiência
associada (o que não ocorre), não justificaria o preconceito. “Prefiro pensar que quando
alguém me olha na rua é porque chamo a atenção”, diz Andrezza, que já participou de
desfiles e editoriais de moda.
No Brasil, os albinos enfrentam dificuldades ainda mais sérias que a rejeição. Por
não serem contabilizados pelo IBGE, não é possível traçar um perfil sócioeconômico desta população. Mas, segundo estudo realizado na Bahia por Lilia de Azevedo, professora do Instituo de Biologia da Universidade Federal da Bahia, a maioria sequer termina o Ensino Fundamental por não conseguir acompanhar a matéria por causa da visão.
Fernanda Quintiliano, de 25 anos, é prova viva de que as diferenças não passam da primeira
camada da pele. Viveu como uma criança loira e branquinha até os 17 anos, quando uma
médica, após testes, confirmou o albinismo. “Achei estranho. Não me sentia igual a ‘eles’.
Achava-os esquisitos. Agora, já me acostumei, mas minha vida não mudou em nada”, diz Fernanda. Foi em um grupo de discussão sobre albinismo na internet que ela conheceu o noivo, Flávio Ribeiro da Silva, com quem casará em setembro.
Também foi na rede que Andrezza montou uma comunidade para albinos. Lá, a resposta
mais comum aos curiosos é: “Temos que ser felizes da maneira que somos, brancos,
negros, albinos. O que importa é que cada um tem o seu papel aqui.” É assim mesmo que
deveria ser.


O feitiço da brancura
“Sete bandidos invadiram minha casa. Três ameaçaram minha família com (fuzis) Kalashnikov, enquanto os outros quatro cortavam o albino, que ainda estava vivo. (...) Depois, foram
embora, deixando no lugar o que restou do corpo”, contou Nicodème Gahimbare, procurador de Ruyigi, província situada no leste do Burundi, ao jornal francês “Le Monde Diplomatique”. Há
pouco mais de 1 ano, os albinos africanos, principalmente do Burundi, têm sido vítimas de uma caçada sórdida e insensata, baseada na crença de que a brancura extrema atrai todo tipo de poder e, principalmente, riquezas.
Em Camarões, no Mali e em outros países do continente africano, atribuem-se forças sobrenaturais às crianças brancas (albinas) filhas de pais negros. “Aqui, na região dos Grandes
Lagos, somos considerados os filhos do sol, da fortuna”, explicou Cassim Kazungu, presidente da Associação dos Albinos do Burundi ao jornal francês. “Alguns feiticeiros, principalmente
originários da Tanzânia, contam que, se misturarem nossos ossos e nosso sangue em certas poções mágicas, serão capazes de confeccionar amuletos para obter ouro, sorte ou a eterna juventude. Somos assassinados por causa de histórias de feitiçaria”, conclui. Por conta disso, crianças e adolescentes se tornaram alvos de um mercado lucrativo. O cadáver de um albino vale o correspondente a R$ 7.600, em países marcados pela miséria. Nos últimos 2 anos, 60 albinos foram mortos, 30 deles adolescentes.

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