sábado, 20 de junho de 2009

TÉSPIS

Este blog é redigido na cidade de Penápolis (SP), que possui cerca de 60 mil habitantes. A cidade tem forte tradição teatral, remontando pelo menos desde a década de 60. Temos, inclusive nosso próprio mito à la Cacilda Becker: conta-se que Maria Teresa Alves Viana – que dá nome a nosso teatro municipal – era excelente atriz amadora, bela e grande incentivadora das artes cênicas por essas plagas. Maria Teresa faleceu tragicamente em desastre automobilístico. Sua irmã, Ruth Viana, juntamente com outras pessoas, deu seqüência ao trabalho do TAE – Teatro Amador Estudantil de Penápolis.

Pepita Rodriguez também saiu daqui de Penápolis. Para as novas gerações: Pepita é mãe do Dado Dolabella. Lembro-me que certa vez um grupo de amigos foi à casa dos pais de Pepita para pedir dicas a ela e ao marido Carlos Eduardo Dolabella de como seguir na carreira artística. Eu não estava no grupo... Nenhum seguiu a carreira artística, porém. Uma das amigas é atualmente professora em Universidade Federal. Os outros não sei mais onde estão. Éramos todos adolescentes muito participativos.

Quando cursava o colegial no início da década de 80, Dona Ruth – que é tia da atriz Giulia Gam – lecionava geografia na escola estadual onde eu estudava e incentivava os alunos a formarem grupos de teatro. Além de fazer parte da tríade de professores mais influentes de minha vida (cheguei a cursar um mês de geografia na UEL!), Dona Ruth me motivou a fazer teatro.

Em 1983, eu estudava de manhã e à noite. Pela manhã fazia o curso magistério e à noite o colegial regular. Como parte das horas de estágio que devíamos cumprir no magistério, decidimos montar uma peça infantil: A Cidade dos Papa-Pipocas. Eu era o vilão, o Bom de Bico! (“Eu papo e pinico, eu sou o Bom de Bico!”) Aliás, foi com essa peça que ganhei meu primeiro dinheiro. Nosso ex-professor de português – outro membro da tríade que me influenciou – era então Secretário Regional de Cultura e nos contratou para apresentar a peça na vizinha cidade de Araçatuba, a “cidade grande” da região. Com o cachê comprei um par de tênis e um rádio AM/FM porque em casa não tínhamos FM, apenas um daqueles rádios antigos, de madeira ainda. O rádio comprado com o cachê ainda existe e está na cozinha agora. Também me lembro dos bifões enormes que serviram no almoço! Em casa era tudo tão contadinho. Não se deixem enganar pela aparente sofisticação do “doutor em dramaturgia norte-americana pela USP”; venho de família classe D... (será que é assim que ainda dividem?)

Atuei em outro espetáculo infantil, Maria Trapalhona acho que era o nome. Eu fazia uma vilã. Sim, isso mesmo uma VILÃ! Joana Confusão era o nome da personagem. Havia uma hora em que eu passava batom borrando a cara toda e, improvisando, perguntava á platéia: “eu sou mais bonita que a Madonna, não acham?” Madge era bem jovem e em início de carreira então. E eu mais jovem ainda.

Devo ter feito um par de peças adultas tiradas daqueles livros da Coleção Zero Hora e depois nunca mais. Foi diversão de adolescente e foi ótimo enquanto durou, mas a idéia nunca foi virar ator de verdade.

Nunca fui aquele tipo de pessoa com diferença que se escondeu do mundo. Nunquinha. Sempre saí, me diverti. Agüentava muito desaforo e não vou negar que doía, mas jamais passou pela minha cabeça me esconder por causa disso. Sempre fui muito mais eu!

Escrevi tudo isso simplesmente para contar que hoje à noite vou ao teatro ver um monólogo escrito e atuado pelo jovem penapolense Marcelo Martelo. É a segunda vez que verei o espetáculo, que agora sofreu modificações sugeridas por uns jurados de Sampa. A peça concorre com outra na fase municipal de seleção para o Mapa Cultural.

Depois conto sobre o espetáculo. Agora vou trabalhar.

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