quinta-feira, 25 de junho de 2009

ENTREVISTA

Uma vez que o projeto de fotografar pessoas com albinismo – idealizado pelo fotógrafo Gustavo Lacerda – está em fase de decolagem, pedi a ele que respondesse a algumas perguntas a fim de informar melhor os leitores do blog sobre a natureza da empreitada.

Como os leitores sabem, nosso blog pretende, na medida do possível, produzir seus próprios materiais e não apenas compilar artigos e fotos encontrados nos rincões da internet. Duas outras entrevistas já estão engatilhadas e serão oportunamente publicadas assim que recebidas.

Dr. Albee: Primeiramente, gostaria que você se identificasse para os leitores. Nome, há quanto tempo atua como fotógrafo, em que áreas atua, esse tipo de coisa.
GUSTAVO:Sou fotografo, tenho 39 anos. Nasci em Belo Horizonte, onde comecei a carreira. Desde 2000 moro em São Paulo, onde tenho um estúdio. Trabalho com fotografia para publicidade, além de eventualmente desenvolver trabalhos autorais, sem vínculos comerciais.

Dr. Albee: Como surgiu a ideia do projeto sobre as pessoas com albinismo?
GUSTAVO: Sempre me identifiquei mais com o "diferente" do que com o "padrão". Adoro aquele poema do Fernando Pessoa que diz "Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo". Certamente o meu mundo não é assim, ainda bem!
Já há algum tempo, tenho pensado num ensaio de retratos de pessoas com albinismo. E desde que passei a me interessar mais pelo assunto comecei a encontrar albinos com mais frequência pelos meus caminhos, e, como acredito bastante em sincronicidade, fui sentindo que estava chegando a hora de botar em pratica a ideia das fotos.
Já no processo de pré-produçao do meu projeto conheci o trabalho do fotografo Rick Guidotti através do site www.positiveexposure.org/ , que com suas imagens extremamente humanistas e poéticas, me estimulou ainda mais.

Dr. Albee: Como você se preparou para a execução do projeto? Pessoas com albinismo geralmente são bastante fotofóbicas, por exemplo. Você pesquisou sobre o assunto antes? Teve que fazer alguma adaptação no equipamento, iluminação, detalhes técnicos?
GUSTAVO: Tenho me preparado lendo um pouco sobre o albinismo (o seu blog foi a principal fonte de informações na internet; é incrível como se fala pouco sobre albinismo) e conversando com pessoas que tem me ajudado bastante, como a psicóloga de Campinas, Ieda Derrico.
Recentemente, fiz um retrato de um modelo com albinismo, para um livro da Associação Brasileira de Estilistas (ABEST) que acabou de ser lançado. Nesse trabalho comecei a entender na prática a questão da fotofobia. Tive um pouco de dificuldade com a luz que havia preparado para a foto. Como eu queria uma pele muito luminosa para realçar a beleza do brilho, optei por uma fonte de luz fluorescente muito grande e próxima ao modelo. Devido às dificuldades do modelo com a luz continua, preparei para o próximo ensaio outro tipo de iluminação, menos direta e que incida sobre os olhos numa fração infinitamente menor de tempo.

Dr. Albee: Como foi o processo de contato com os participantes em potencial do projeto? Digo, os albinos são minoria bem pouco organizada ainda, imagino que entrar em contato com albinos não deva ser assim tão fácil...
GUSTAVO: No inicio foi difícil, pois não encontrei nenhuma Associação ou órgão que pudesse me auxiliar no processo de busca dos meus modelos. Mas depois encontrei o Blog do Albino Incoerente, que me trouxe outras fontes e através de uma reportagem da revista Veja. E também através de pesquisas no Orkut conheci a Ieda Derrico, que tem sido uma grande colaboradora e incentivadora.

Dr. Albee: Em que resultará esse projeto? Numa exposição de fotos sobre pessoas com albinismo?
GUSTAVO: A princípio meu objetivo é simplesmente retratar pessoas com albinismo. Criar belas imagens de pessoas que tem uma beleza que me encanta. Isso com certeza acaba sendo uma forma indireta de "dar mais voz" a essas pessoas e suas necessidades especificas. Vislumbro uma exposição num futuro próximo, mas prefiro me concentrar no trabalho agora e confesso que tudo ainda está um pouco aberto em termos de possibilidades. Como é um trabalho de cunho artístico, prefiro deixar que as coisas surjam à medida que as sessões fotográficas forem acontecendo, tanto do ponto de vista estético e formal do trabalho, como também nos caminhos para divulgá-lo. Mas, certamente, quero em breve ter um trabalho bacana e consistente e torná-lo publico.

Dr. Albee: No momento, fala-se muito nas quotas, como por exemplo, nas quotas para modelos negras. Você acredita que o mesmo deveria ser aplicado na publicidade e afins com relação a outras minorias?
GUSTAVO: Acho que essa possibilidade deveria, sim, ser estudada por especialistas, sociólogos etc. Não me atreveria a opinar assim, sem um estudo maior do assunto, mas certamente acho que o ser humano deveria ser melhor preparado, desde a pré-escola, para lidar com as diferenças, com as particularidades de cada pessoa. Se os políticos pensassem numa escola nesses moldes, o mundo seria muito melhor e mais justo.

Dr. Albee: Seu projeto certamente trará maior visibilidade às pessoas portadoras de albinismo. Você recomendaria alguma outra iniciativa por parte de outros setores da mídia? Algo como, inclusão de personagem albina em comerciais de TV ou coisa do gênero?
GUSTAVO: Seria interessante se o governo investisse um pouco mais nisso. Serviria até como incentivo para outras empresas que vem adotando uma postura comercial muito mais humanista e sustentável, como um ou outro banco brasileiro e algumas empresas de cosméticos.

Fico extremamente feliz e lisonjeado que o blog tenha sido útil ao Gustavo e aproveito para agradecê-lo publicamente pela gentileza em responder às perguntas tão prontamente. Em julho, aguardem nova entrevista com ele, dessa vez com suas primeiras impressões a respeito da sessão de fotos inaugural de seu projeto, que se dará aos 4 de julho.

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