segunda-feira, 29 de outubro de 2018

CAIXA DE MÚSICA 337


Roberto Rillo Bíscaro

Desde que Annie Haslam e Michael Dunford revitalizaram o Renaissance, em 2009, a banda não parou mais de fazer shows. O falecimento de Dunford não deteve a veterAnnie, que até lançou material inédito de estúdio, em 2014, resenhado no blog.
Ano passado, os britânicos excursionaram pelo norte dos EUA e em diversos espetáculos tocaram com a Renaissance Chamber Orchestra. Mediante crowdfunding – termo cybercorporativo pra vaquinha – entre fãs, conseguiram verba pra financiar que uma das performances fosse filmada e lançada em CD duplo e DVD.
Assim, há algumas semanas saiu A Symphonic Journey, registro da apresentação no Keswick Theater, na cidade de Glenside, na Pennsylvania, dia 27 de outubro, de 2017. Este texto trata do CD duplo; não tenho mais saco há anos pra ver show em DVD, streaming, o que seja.
Com carreira de décadas e repertório imenso, ficam lacunas, como a ausência de Northern Lights, única canção a arranhar o fundinho do Top Ten de sua terra natal. Talvez pudesse estar no lugar de Island.
O Renaissance é o protótipo da banda de rock progressivo, que serve de alvo perfeito pra detratores que sempre se queixaram da ausência de rock na fórmula. De fato, o único momento mais roqueirinho é a derradeira Ashes Are Burning e mesmo assim, porque é a hora em que cada músico tem seus segundos individuais pra brilhar, então há uma guitarra mais proeminente. Mas, o piano é jazz e o predomínio, claro, é orquestral.
E fãs do lado estritamente sinfônico não terão do que reclamar. A instrumentação é suiçamente precisa e a voz da setentona Annie Haslam impressiona pela manutenção do alcance e cristalinidade. A folky At The Harbour, com seu delicado arranjo, destaca à perfeição essa voz. Pra quem gosta de virtuosismo aqui e acolá, Haslam ainda tem fôlego, como no apoteótico final de Mother Russia. Essas canções foram feitas com pretensões orquestrais, então os oboés e cordas caem perfeitamente. Mother está imperial, assim como A Song For All Seasons, Prologue e A Trip To The Fair, esta última também alvo perfeito pros acusadores das letras do prog sinfônico não passarem de desculpa pra variações instrumentais. Que seja, mas é lindo.
Felizmente, foram incluídas faixas do renascimento desse milênio e que se encaixam muito bem aos clássicos sinfônicos dos 70’s. A longa e variada Symphony Of Light e a maviosa Grandine Il Vento demonstram que o Renaissance deveria lançar mais material inédito de estúdio. Sem se preocupar em ser “acessível”. Os fãs que restaram esperamos outro Scheherazade & Other Stories!
Até porque já tentaram ser mais concisamente pop e de nada adiantou em termos de vendagens e paradas de sucesso. Há quarenta anos, um par de álbuns trouxe umas coisas mais tocáveis em rádio, tentativas que A Symphonic Journey não esquece, porque produziu gostosuras folk como Carpet Of The Sun, com sua cornetinha que prenunciava em 7 anos o tema de abertura de Dynasty (!) e Kalynda, delicada balada pescada do desnorteado Azure d’Or (1979), no qual o Renaissance buscava em vão um novo rumo, após o terremoto disco music e o tsunami punk.
Ainda é muito prazeroso jornadear com o Renaissance.

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