segunda-feira, 2 de outubro de 2017

CAIXA DE MÚSICA 285


Roberto Rillo Bíscaro

A cena do rock progressivo na Itália deve ser uma das mais ocupadas do planeta. Longe da visibilidade quase mainstream dos anos 1970, o prog rock não conseguiu ser exterminado pela disco music ou pelo punk/New Wave e a Bota europeia está salpicada de bandas atendendo às expectativas de apreciadores, que se não muito numerosos, dispõem de eficientes canais de divulgação, gravadoras especializadas e circuito de shows. La Coscienza di Zeno e Ingranaggi della Valle são 2 potências da cena ítala contemporânea já resenhados, aqui e aqui.
O parmesão Unreal City teve seus 2 primeiros álbuns citados no blog também, aqui e aqui. Fundada pelo enfant terrible Emanuele Tarasconi (vocais e teclados) e pela guitarrista Francesca Zanetta, o quarteto retornou dia 10 de setembro com Frammenti Noturnni, lançado pela AMS Records. Além de Tarasconi e Zanetta, do quarteto original restou o baixista Dario Pessina; a bateria e percussão foram assumidas por Marco Garbin. O violino atuante e importante em alguns trechos é de um convidado: Matteo Bertanni. As 5 faixas perfazem quase 48 minutos de música, gravadas entre janeiro e abril na franciscana Pádua. 
Unreal City e Frammenti Noturnni são indicados apenas para fãs de rock progressivo sinfônico bem dramático e italiano dos anos 1970. Até a produção soa um pouco como a da época, embora mantenha o alto padrão disponível hoje. Ela só não tem a sensaboria de algumas das coisas produzidas agora. Embora Tarasconi seja o sempre o mais citado e a banda seja mesmo mais centrada nos mais diversos tipos de teclados analógicos, a guitarra de Francesca Zanetta – oscilando entre Hackett, Fripp e Gilmour, sem ser cópia de nenhum – esculpe belos solos em diversos registros e costura por fora e por baixo das camadas de teclado, baixo e percussão criadas pelo quarteto, sempre interessado em melodias, bem ao estilo e gosto do prog italiano setentista de PFM, La Locanda delle Fate e tantas outras. Mesmo nos curtos trechos mais “experimentais” à King Crimson, nem todos os instrumentos estão nessa sintonia. Frammenti Noturnni é muito indicado para repetidas audições.
Tudo começa com os 13 minutos de La Grande Festa de Maschera, dividida em seções, sendo que na primeira Tarasconi pirotecniza com seus Hammonds, Moogs e MiniMoogs, com Zanetta metendo por trás com a guitarra e o violino desenfreado, ou seja, é para desarmar e botar de quatro qualquer fã de prog sinfônico. O resto da faixa varia entre momentos de piano clássico até um final algo sombrio, que se liga com a segunda faixa, Le Luci dele Case (Spente), que abre com delicado órgão eclesiástico e guitarra fininha e fará fãs saudosos do Genesis explodirem em choro convulsivo lá pelo sétimo minuto, quando parece que Banks e Hackett estão duelando num Paraíso eternamente primaveril. Daquelas canções de encher a gente de orgulho de ser seleto fã de prog sinfônico!
A curta – 5:46 pra prog é curto – Barricate tem momentos quase pop, mas no fim há solaço de teclado e guitarra de tirar fã do sério. O clima fica mais urgente em Il Nido delle Sucubbi, mas não chega a hard prog, não se desespere, quem não curte. No encerramento Arrivi All’Alba, voltam as melodias de derreter metal e encher de esperança e luz.
Felizmente, todo cantado em italiano, Frammenti Noturnni não deve nada à geração setentista do Rock Progressivo Italiano ou de qualquer nacionalidade. 
Outra banda mais pro lado alternativo da força que não tem desculpa de não ouvir por falta de acesso. Os 3 LPs estão no Bandcamp:

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