quinta-feira, 26 de outubro de 2017

TELONA QUENTE 208


Roberto Rillo Bíscaro

Embora haja muita homofobia e perigo pros gays, não há como negar o aumento enorme na representação da homossexualidade no cinema e na TV nas últimas 2 décadas. Às vezes, dá impressão de política de cotas, porque filmes/séries têm que ter afro-descendentes, algum tipo de desvio da heteronormatividade e por aí afora. Não reclamo, constato. Tamanha representatividade pode levar a ideias errôneas de que na vida fora das telinhas/lonas, comportamentos homoeróticos sejam tão normalmente aceitos como os heterossexuais. A passeata neonazi na Virginia deveria servir como abridor pra muitos olhos hipnotizados por fantasias midiáticas.
O simpatiquinha, porém descartável, 4th Man Out (2016) é bem característico desses tempos onde desvios da heterossexualidade são mais mostrados como plenamente aceitos, do que realmente são. Estreia do roteirista Aaron Dancik e do diretor Andrew Nackmah, o filme pretende mostrar que é OK ser gay e a aceitação nem é mais tão difícil. O problema é que a própria narrativa não está totalmente confortável com a homossexualidade, problema exacerbado por roteiro esgarçado.
Numa dormente cidadezinha operária do nordeste dos EUA, o mecânico Adam revela-se gay pra seus 3 melhores amigos; 2 dos quais chegam a ser caricaturas de heterossexualidade, com seus comentários e peidos. Os caras nem chegam a protestar ou rechaçar Chris, porque são personagens mal construídas pra burro. O mais bem realizado é o bonitão Chris, que aceita Adam numa boa. Como Chris é mais bem escrito que Adam, o interesse recai quase sempre no seu lado da história, então tem hora que 4th Man Out é mais sobre a possibilidade de se ter um amigo gay, do que ser gay. Mas ser gay sem ser efeminado, porque a narrativa nos apresenta uma série de cartuns de personalidades gays “indesejáveis”. Na verdade, há um trecho, onde o real e único interesse é se Chris consegue a menina que cobiça.
Até há uma tentativa bem-intencionada e divertidinha de inverter estereótipos atribuídos a gays, mas o roteiro jamais se aprofunda em nada muito criativo. Enfim, 4th Man Out é passatempo que prega a convivência da diferença – desde que não muito diferente – e por isso merece simpatia, mas não soma muito.
Vi na Netflix, quem sabe ainda esteja no catálogo; tentem.

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