terça-feira, 24 de outubro de 2017

TELINHA QUENTE 282


Roberto Rillo Bíscaro

Slasher, série do canal Chiller, especializado em horror, foi cancelada devido à baixa audiência. Malgrado defeitos de produção e roteiro, foi decente homenagem aos slasher films dos anos 1980. Leia resenha aqui.
Plataformas de streaming parece que adoram dar segunda chance a séries machadadas e foi o que a Netflix fez. Produziu uma segunda temporada, adicionada ao catálogo semana passada e que minha paixão por slashers fez passar adiante de tudo, pausar o que via no momento e assistir de maratona. Os 8 capítulos de Slasher: Guilty Party (SGP) foram gravados em maio e escritos pelo idealizador do projeto desde a temporada anterior, Aaron Martin, que ama slasher films, Agatha Christie e mistérios policiais, tipo Broadchurch.
SGP seguiu a tendência do superestimado American Horror Story e voltou com outra mitologia, novo cenário, personagens diferentes. Dessa vez, um grupo de ex-supervisores de acampamento de verão retorna ao sítio, a fim de coletar evidência comprometedora duma coisa terrível cometida há cinco anos. Os atuais ocupantes da propriedade são um grupo alternativo bem Namastê, com aquela conversa Era de Aquário (argh!). O local fica isolado e é o pico do inverno. De repente, membros de ambos os grupos começam a ser brutalmente mortos e os segredos e culpas vão emergindo.
A série canadense volta a lidar com lugares-comuns definidores do subgênero slasher, como a Lei do Retorno: fez errado, paga. Horror e papinho New Age compartilham tanto! A escolha e aproveitamento do inverno justificam o isolamento do grupo, além de conferir mais frialdade e desespero na fase em que as personagens percebem que vão perecer. Vira meio que um slasher noir. Aliás, a roupa e máscara do/a serial killer remeteram-me a obscuro filme bem antigo; já vi coisa similar. Não tô acusando SGP por isso; a indumentária funciona, embora sem poder de virar icônica. Embora ache pecado mortal usar revolver como arma pra eliminar as vítimas, isso acontece pouco e há algumas mortes beeeeem legais.
Outro ponto positivo de SGP é elevar a faixa etária dos tradicionais adolescentes pra adultos e gente entrando na meia-idade. Isso teve repercussão na trama e no visual. A história mostrou que adultos podem fazer escolhas tão estúpidas quanto teens e visualmente é uma suspensão de descrença a menos pro espectador, que não tem que fingir acreditar que atores bem mais velhos são adolescentes. Recentemente via 13 Reasons Why e pensava “caraca, esse cara é uns 5 anos mais velho que a personagem!” E olha minha acuidade visual de 10%, heim gente? Então, os adultos em SGP emulam um daqueles jogos de verdade ou desafio, fazem simulação de julgamento e, clássico, saem sozinhos e, claro, são assassinados. Os tais joguinhos não levam a lugar nenhum na trama, estão lá pra efeitos de exposição e as saídas-solo até entendemos: um desconfia do outro. O roteiro é bem-feitinho.
Como há bastante tempo à disposição, conhecemos bem os passados, expostos através da intercalação de cenas no pretérito, conforme gosto atual. Isso não chega a afetar o ritmo, porque todo mundo tem históricos nada louváveis/monótonos, inclusive a galera vegana de fala mansa e manipuladora de cristais. O problema da desaceleração é aquele que afeta toda série de horror, especialmente as slashers. Não dá pra ficar adrenalinado e matando o tempo todo. Em filmes – quando bem-feitos – isso até se aguenta, mas em seriados essa barriga aumenta, então há momentos quando temos que aturar diálogo sobre a diferença da meia-noite e das 3 da manhã; a primeira consagrada às bruxas e a outra ao demônio, sendo que isso nada contribui pra história, que não lida com nenhum desses elementos.
Quem sabe não seria mais ágil, produtivo, barato e inteligente, pensar em capítulos mais curtos, nessas séries produzidas pra streaming? Que eu sabia só a Netflix exibe Slasher: Guilty Party e não é preciso se preocupar com inclusão de comerciais e encaixe na grade, então, por que não episódios, com digamos, 30,35 minutos ao invés dos usuais mais de 40?
Mas essa lentidão se pronuncia mais nos 2, 3 capítulos iniciais, depois, como num longa-metragem, a coisa pega fogo e torna SGP ainda melhor que a primeira temporada.

Já tô torcendo ansiosa e esperançosamente pra terceira!

Nenhum comentário:

Postar um comentário