terça-feira, 4 de abril de 2017

TELINHA QUENTE 253

Resultado de imagem para inspector rebus
Roberto Rillo Bíscaro

Jamais li sobre tipologia de narrativas detetivescas, mas desde que comecei o mergulho nesse oceano, percebi, grosso modo, 3 tons. Há as series profundamente deprês, duns tempos prá cá influenciadas pelo Nordic Noir, caso de Hinterland, Broadchurch e Shetland. Há as que acabam por tratar crimes como coisas fofas (e depois as doentias são as depressivas!), ao estilo clássico de Murder, She Wrote ou mais recentemente The Doctor Blake Mysteries. Ano passado, vi os 14 episódios de Rebus, produzidos na Escócia pra ITV entre 2000-07, que habita mundo intermediário, embora descreva arco do semideprê ao mediano.
O Inspetor John Rebus é personagem duns 20 romances escritos pelo escocês Ian Rankin. Segundo consta, o detetive de meia-idade é amargoso e algo ambíguo. O que me levou pra série, na verdade, foi ser ambientada em Edimburgo. Como tenho estado nessa vibe de policial-não-CSI-por-favor, unir algo menos conhecido do mundo dos canais pagos e netflíxicos brasuca à chance de reviver imagens duma das cidades mais lindas em que estive foi irresistível. Dois ainda-bens são necessários: por ter dado o salto no escuro de ver algo sobre o que jamais ouvira falar (se bem que faço isso sempre) e por ter começado pelos 10 episódios onde Rebus é interpretado por Ken Stott. Não sei se teria visto tudo se iniciasse pelos 4 longos filmes iniciais de John Hannah. Nada disso foi deliberado, apenas questão de acesso aos episódios.
O quarteto de telefilmes com Hannah tem parentesco com o Cine Noir, porque o atormentado Rebus narra em off à Sam Spade. Ao contrário do que viria com a era Stott, diversas referências são feitas sobre a vida pessoal do policial, inclusive o episódio derradeiro com Hannah, The Hanging Garden, explica como ele “perdeu” sua filha. Nada contra produções deprês, mas o show não faz sequer cócegas no clima criado por River e congêneres. Além disso, John Hannah não me convenceu, mas daí pode ter sido porque Ken Stott acertou tão em cheio em suas atuações, que Hannah nem teve chance.
A dezena de shows com Stott veio com roupagem bem mais clean, visualmente moderna e esbanjando a beleza de Edimburgo, embora haja tramas nos bairros barra-pesada. Está mais pra policial padrão, mas é muito mais interessante de assistir. Sua parceira Siobhan Clarke (passei a amar esse nome depois de Ringer!) ganha espaço permanente e que delícia ver a quieta, linda e loira Claire Price com suas caras de surpresa e “menina, tô passada” perante o intempestivo superior. E Stott está impagável e imbatível. Se Rebus é um coroa meio grosseirão nos livros, então Ken é o homem.
Menos complexo que o quarteto inicial, o Rebus de Stott entretém melhor, é mais ágil. Se a era Hannah tivesse sido excepcional, tudo bem, mas qualquer show mencionado nesta resenha supera a qualidade da depressão do Rebus do início, então pra que perder tempo com ele? Pegue o Rebus de Stott e divirta-se com suas tiradas do tipo ameaçar um paparazzo de prisão por “assumir a identidade dum ser humano” ou sua constante afirmação de que trabalho em grupo não vale muito, o que conta é o indivíduo. Mas, também um meganha que se importa com os indefesos e se comove com os crimes.

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