terça-feira, 14 de março de 2017

TELINHA QUENTE 250

Resultado de imagem para murder she wrote
Roberto Rillo Bíscaro

Leitores mais assíduos sabem como gosto de notar a presença de queridos velhos atores/atrizes nas séries antigas resenhadas. Virou requisito anotar rostos conhecidos e mencioná-los como exemplos de episódios. Sempre mais ligado no elenco do que em outros aspectos, tenho por hábito checar filmografias no IMDB pra ver se acho o que falta pra assistir dos favoritos.
Nessas pesquisas sempre encontrava participação em episódios de Murder, She Wrote. Astros velhuscos de Hollywood, personalidades da TV; parecia que todo mundo passara pela série. Como dalguns anos pra cá policiais captaram minha atenção, ano passado dediquei-me às 12 temporadas, exibidas entre 1984-96, pela CBS. Ser anos 80 também influenciou muito em eu ter dedicado meu tempo aos 264 episódios.  
Sucesso nos EUA e muitos países, Murder, She Wrote (MSW) passou despercebido no Brasil, onde dizem que foi exibida um pouco pela Globo, com o nome Assassinato Por Escrito, mas não tenho lembrança, embora no Youtube exista o começo dum episódio dublado pela BKS:

Decalque da Miss Marple, de Agatha Christie, a detetive diletante de MSW é Jessica B. Fletcher. Depois de viúva, a ex-professora de inglês começa a escrever histórias de detetives sob o nome J. B. Fletcher. Moradora da pequenina Cabot Cove, no Maine, a senhora Fletcher torna-se êxito comercial, o que lhe proporciona amplas possibilidades de viagem e contatos com gente da alta. Irresistivelmente simpática, penetrantemente observadora, com jeitão de madrinha doce, a Sra. Fletcher, na verdade, é uma ave de mau agouro, porque onde quer que esteja, ocorre(m) assassinato(s), que ela desvendará quase sempre por haver percebido discrepância minúscula. Imagine que em 264 episódios, a pilha de defuntos é himalaica e como sempre parece que a simpática senhora está trabalhando num livro, apenas cogita-se como teria tempo pra tanto. Mas, MSW é daquela categoria onde elucidar um quebra-cabeça detetivesco é pura diversão. É a morte como entretenimento depois dum dia cansativo de trabalho e do jantar, antes de ir pra cama.
A estrutura dos roteiros permaneceu pétrea as 12 temporadas. Praticamente metade dos 50 minutos de exibição são ocupados pela exposição, que ao longo da dúzia de anos se passou em cidades e ambientes bem diversificados, de uma vinícola a um estúdio de gravação ou haras. É nesse tempo que os conflitos são estabelecidos, informações técnicas de cada ambiente fornecidas e a(s) vítima(s) mais ou menos cantadas. Jessica está sempre na hora certa (?) no lugar certo (?) e conhece todo mundo, o crime ocorre, um inocente é erroneamente culpado, Mrs. Fletcher trabalha amigavelmente ou não com o detetive e mediante estímulo desconectado com o crime, deduz o culpado a partir de detalhe, porque a Sra Fletcher não sabe dirigir, mas entende de tudo, desde eletricidade a operações financeiras complexas, então é capaz de deduzir qualquer coisa. No final, sempre confronta o culpado na cena da revelação, onde estão apenas ela e o/a malfeitor/a. Mas, os policiais estão sempre a postos, porque ela combinara a emboscada com eles. Ao final, mesmo após revelações bombásticas de mãe mandando sequestrar filha pequena, tudo acaba em risadas (literalmente). Exceto em uns poucos episódios, onde exigia-se mais exposição, então os créditos finais aparecem imediatamente após a revelação, a imagem congelando na expressão de pesar da detetive, meneando a cabeça.
Em 12 anos nada mudou e o bendito show funciona sempre! Porque Angela Lansbury é um poço de carisma e simpatia, porque é tudo tão absurdo e inconsequente que embarcamos de coração leve e mente aberta e também porque depois de pegar a manha, você começa a atentar pros detalhes que podem levar a prever o assassino. Traquejados, a gente começa a acertar cada vez mais. Se no elenco há um superastro de 15 minutos atrás, há boa chance de ser o culpado (porque a cena da revelação sempre rende holofote!). De meiguice/sonsice muito demais também desconfiamos. Enfim, há marcadores nítidos, porque o roteiro é pura fórmula e vários episódios não cansam de repeti-la, tipo o xerife/inspetor dizer que fulano tinha “motivo, meios e oportunidade” pra cometer o delito.
Os episódios são tão fórmula, a duração de MSW tão longa e o desfile de conhecidos é tão extenso que abri mão de mencionar, porque não daria conta! Era um tal de aparecer gente de DALLAS, Dynasty, The Golden Girls, Batman, Melrose Place e tantos mais que ficaria doido anotando.
Uma das coisas mais fascinantes de ter visto a dúzia de temporadas em ordem cronológica foi perceber a ocupação do dia a dia pela tecnologia que hoje nos é segunda natureza. E olha que falo de série que terminou em 1996! Mas já dá pra notar a inserção de telefones celulares e computadores (laptops, inclusive) no cotidiano e tramas lidando com realidade virtual, internet e programas bugados.
A produção sempre foi caprichada, embora em vários episódios dos 90’s, a trilha-sonora incidental tenha sido violentada por aqueles saxofones e guitarras horripilantes da época. The 90’s suck!
Murder She Wrote está longe da complexidade cinzenta (em mais de um sentido) das séries policiais atuais, mas quem precisa apenas de coisas deprês e pesadas? 

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