terça-feira, 16 de agosto de 2016

TELINHA QUENTE 225

Roberto Rillo Bíscaro

Continuar acertando o passo com a esnobada década de 90. Ter episódios com tramas e elenco diferentes pra não monotonizar e ter gostado bastante do original sessentista foram decisivos pra que eu não demorasse tanto em ver as 7 temporadas (1995-2002) da reedição d”A Quinta Dimensão, pelos canais Showtime/SyFy. Em abril do ano passado, publiquei a resenha das 2 temporadas originais
Com muito mais episódios do que sua predecessora – 154 contra 49 – The Outer Limits colorida mantém o narrador dizendo que assumiu o controle do aparelho de TV blá, blá, blá (eu acelerava a imagem, hoje quem tem saco pra intro longa?) e suas lições de moral pseudofilosóficas no começo e no fim. Elas servem pra estabelecer o tema da história, mas muitas são tão simplistas e moralizantes que dá vontade de rir/chorar. Aliás, a carolice messiânica do destino manifesto anglo-saxão azeda diversos episódios.
Embora tenha ETs e monstros em quantidade, a ênfase no formato “monstro da semana” não mais se justificava nos 90’s, então os temas diversificam-se, se bem que lá pela sétima temporada já se repetiam em essência. Alguns traços permanentes nos roteiros indicam que o exército e o governo são sempre inimigos do povo e que quando o cientista/a ciência quer brincar de Deus algo sairá horrivelmente errado. O mito de Prometeu grita alto. Muitos episódios lidam com viagens temporais, nas quais dependendo do roteirista, o fluxo do tempo pode ou não ser alterado.
Algo legal de se assistir em sequência cronológica e sem muito espaçamento entre um show e outro é perceber correlações entre episódios e até personagens. Elas jamais interferem na independência das histórias, mas uma equipe futurística que se empenha em corrigir desastres históricos aparece mais de uma vez. Não sei como não virou spin off. Mais ao final de cada temporada, episódios usam imagens de outros – correlatos ou não – como se fossem miniantologias.
Dadas as especificidades históricas e de produção, não entrarei no jogo de comparar as 2 encarnações, até porque essa noventista não refilmou quase nenhum episódio de sua genitora branco e preta. Dá pra ver as 2 numa boa e curtir muito, se você é fã de ficção-científica pop.
Talvez pela produção ser parcialmente canadense, foram sucessivos episódios, dos quais eu nem fazia ideia de quem eram os atores, mas reconheci alguns ao longo do caminho. Sempre lembrando que esse jogo de identificação de rostos familiares é totalmente subjetivo; geralmente anoto quem já apareceu em alguma resenha, mas também vale querido que não. Quem (ainda) não significa nada pra mim, tipo Aly Sheedy ou Molly Ringwald, que um dia foram alguém, mas não pra moi, nem entra na brincadeira:

Robert Foxworth, o Chase Gioberti da soap oitentista Falcon Crest apareceu como presidente dos EUA num episódio excelente e tenso pra burro, sobre alienígenas vindo em direção à Terra. Seriam amigos ou hostis? Da decisão do recém-empossado presidente dependeria o planeta.
Bonnie Bedelia, a Camille Braverman, de Parenthood, num episódio meio moroso sobre descompasso temporal impedindo contato entre 2 ex-amantes.
Sheena Easton já acabada como pop star em um episódio chamado Falling Star (ouch!) sobre uma estrela pop apagando que recebe visita duma fã dum futuro sombrio e que pode lhe render nova chance de significar algo, ainda que de modo inesperado. Nunca tinha visto a Modern Girl atuando, foi digno; recomendo a entusiastas oitentistas.
Michael Gross, o Steve Keaton de Caras e Caretas, que, pelo brilho peculiar da lua percebe que o sol deve ter se tornado supernova e por ser a última noite do planeta, tenta fazer tudo o que não teve coragem, no caso, propor casamento pruma colega e quebrar vitrines pra roubar anéis. Episódio não decide se é história de amor ou cine-catástrofe.
Harold Gould, o Miles (namorado de Rose Nylan) de Supergatas, num episódio poético em que idosas tem segunda chance de procriar, mas desde que seja por amor. No fundo da superfície, é moralista: sexo só com amor.
Victor Garber, o chique vilão Robert Bowers, da fracassada Deception, no episódio Out Of Body, vivendo o marido amantíssimo duma cientista que pesquisava se coexistimos em diferentes dimensões. No fim, é pra provar que temos alma e ciência e tecnologia estão a serviço dum ente superior. Sci fi usada pra provar o improvável. Ele trabalha em outro no qual é um cientista malvado que persegue um androide de uma série de robôs que não sabiam que eram cibernéticos. Os maus tratos infligidos pelos humanos aos robôs são recorrentes, resultando em histórias provocativas e possíveis de estabelecer paralelos com temas como escravidão e neocolonialismo.
Fred Savage, o Kevin Arnold de Anos Incríveis, numa história envolvendo mulher que sobrevivera à Peste Negra e mantinha-se viva, imune a doenças e envelhecimento séculos depois. A estelaridade de Fred já era, porém: os protagonistas são a moça e o pai, que a conhecera anos antes, quando servia o exército, que a perseguia porque queria descobrir a fonte da eterna juventude. Adoro histórias sobre deslocamentos temporais.
Daphne Zuniga, a Joe de Melrose Place e Joel Grey, o demônio que leva JR Ewing ao pseudossuicídio, num episódio num mundo pós devastação biológica, onde as autoridades tentam controlar as emoções, outro tema recorrente. Pode-se acusar The Outer Limits de tecnofóbico muito frequentemente. Por outro lado, há que lembrar que o subgênero que mais diretamente lida com ciência é a ficção científica, então, é mais normal que a desconfiança com relação a ela sinta-se mais nessas produções do que num western.
Joseph Gordon Levitt, antes de ser ET em Third Rock From the Sun, participou de um episódio onde agentes do governo caçam aliens infiltrados na Terra, um deles perigosamente perto do jovem. Gente, aqueles óculos-escuros e o sobretudo balançante gritam MATRIX!
Laura Leighton, a maluquete Sidney (amava!) de Melrose Place  numa historinha muito bem bolada: ela morre, mas descobre que dentro dela havia traços duma gêmea siamesa sacrificada pra que pudesse nascer. Quer ideia mais melodramática trash?

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