segunda-feira, 15 de agosto de 2016

CAIXA DE MÚSICA 231


Roberto Rillo Bíscaro

Após o Natal de 2014, um companheiro de trabalho, sua filha e eu partimos de carro a Buenos Aires; pendrives repletos de música pros dias de viagem. No de Bia, um som ao vivo chamou minha atenção: MPB desconhecida. Ela explicou que era o 5 a Seco. Fiquei de pesquisar assim que regressasse a Penápolis, mas como isso ocorreu quase um mês depois, esqueci. Passou-se mais de ano até que ouvisse Policroomo, que já estava no mercado há uns 4 meses, quando da ida automobilística à capital hermana.
O paulista 5 A Seco é formado por Leo Bianchini, Pedro Altério, Pedro Viáfora, Tó Brandileone e Vinícius Calderoni, que se revezam nos vocais, tocam tudo e compõem. Policromo é MPB pós-Festivais dos anos 60/70 feita por quem cresceu nos anos 80/90. Por isso, tem tudo pra agradar diversas gerações.
Ouça Épocas e veja se aquela guitarra não vem do pós-punk britânico tão popular nos 80’s. A gelidez dela contrasta com a intensidade do resto do arranjo e do vocal. Pra geração crescida depois da ditadura, quando muito pode ser falado, o “foda” da letra não deve chocar como àqueles da época dos Festivais.
O “foda” reaparece em Fiat Lux, que mistura cultura erudita latina com rua hip-hopada. O início remete a sambas-canção de outrora, aqueles que mandam a pessoa seguir seu caminho. Mas daí moderniza e o vocal incorpora táticas de rap e um “caralho” na letra, mas não como forma de ofensa ou sexualização. Há décadas Caetano chocou dizendo estar de saco cheio numa letra; hoje é hora de foda e caralho fazerem parte de letras “sérias”.
Em Eu Amo Djavan, a gozação carinhosa com aquelas letras de MPB difíceis de compreender (“cantar é tão bom, entender pra quê?”) se autorrepete. Usando oitentistas ilariês e oblesquibons com mais antigos tongas de mirongas e nomes dadaístas, a letra assume a mesma pose de literata (pop) da moça que diz que não dança poperô (será que os meninos de hoje sabem que a palavra veio do megahit Pump It Up, do belga Technotronic?).
Som de meninos transurbanizados pra público igualmente saturado de influências díspares, o 5 a Seco injeta rock no clima nordestino-retirante de Você e Eu e no afro de Nem Tchum.
Necessário que a MPB se transforme – e isso nunca parou – e o 5 a Seco precisa lançar mais álbuns pra pintar mais cores nessa mistura de pop com nossas tradições.

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