quinta-feira, 4 de agosto de 2016

TELONA QUENTE 170



Roberto Rillo Bíscaro

O horror é subgênero que comporta diversos sub-subgêneros, como vampiros, lobisomens, fantasmas, casas mal-assombradas, zumbis, slashers e mais tantos. Um deles é o da cabana no meio da floresta, onde incautos são fustigados por forças que podem ser naturais que se revoltam ou do Tinhoso, cenário mais comum. Fundado no nosso medo ancestral da solidão desprotegida em meio a um mundo (sobre)natural hostil e desconhecido, com criaturas muito mais fortes que nós, indefesos seres humanos, esse sub-subgênero já rendeu obras-primas como A Morte do Demônio e muito fogo de artifício superestimado, como Cabin In The Woods, só pra ficar nos já mencionados no blog.
Ano passado, A Maldição da Floresta engrossou a lista de boas produções do tipo, além de revelar promissora carreira, a do diretor e roteirista Corin Hardy. Hardy, em parceria com Felipe Marino, utilizou a tendência de usar elemento histórico que dê cor local. Nada tão sobressaído como no espanhol No + Do ou no argentino Aparecidos, mas The Hallow (título original) aproveitou a ideia frustrada e frustrante do governo irlandês de privatizar os direitos de exploração madeireira das florestas da ilha.
A Maldição da Floresta interlaça a tradição da cabana isolada na mata, com o horror ecológico e a dos filmes de monstro de modo muito eficiente e que de vez em quando deixa o espectador na ponta da poltrona de ansiedade. Um casal londrino troca o burburinho metropolitano pelo silêncio verde do interior duma floresta nos confins da Irlanda. O maridão veio investigar as árvores ou algo assim e isso inquieta os locais, que acreditam que a floresta é habitada por criaturas mágicas que retaliam caso seu território seja invadido. Pouca informação ou investimento na criação dos adultos, mas o filme aposta que nos importemos com Finn, o bebê, manipulando nosso insano amor por infantes indefesos, pelo efeito fofura de mãozinhas e carinha gorducha e nossa preocupação com os pequenos que garantem a preservação de nossa espécie. Dá certo.
O começo é algo lento e poderia ter sido preenchido com mais informação, mas conforme a floresta vai se impondo aos humanos que insistiram em permanecer a despeito das advertências, A Maldição da Floresta ensandece e a meleca jorra num festival de criaturas, fungos que se apropriam de cérebros e objetos pontiagudos aproximando-se de olhos. Não chega ao nível d’A Morte do Demônio, mas há potencial pra desenvolver mitologia de franquia.
Com cinematografia caprichada, efeitos especiais decentes e um final que seria melhor ver até o fim dos créditos com imagens, A Maldição da Floresta é outro competente horror da Irlanda, já destacada no blog, por causa de The Canal.

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