segunda-feira, 15 de agosto de 2016

ALBINISMO NA ESCÓCIA


Ellen Renton
Brasileiros, tendemos muitas vezes a pensar que qualquer lugar na Europa, EUA, enfim, “Primeiro Mundo”, seja melhor que aqui. Traduzi o relato de uma estudante universitária albina da Escócia para sentirmos como as coisas são por lá.

“Olha o Cabelo Dela!” – Eu Gostaria Que o Albinismo Não Atraísse Olhares.

Ellen Renton
(Tradução de Roberto Rillo Bíscaro)

A maioria dos estudantes não imagina quão dura pode ser a vida universitária, se você é uma pessoa com albinismo. O Dia Mundial de Conscientização do Albinismo (11 de junho) nos dá a chance de contar nossas histórias e mudar atitudes.
Recentemente, enquanto me dirigia à biblioteca, um estudante gritou bem alto “olhem o cabelo dela!”, quando passei por ele. Quando se tem albinismo – como eu – a universidade pode ser um desafio.
A condição afeta uma em cada 17 mil pessoas no Reino Unido. Tenho albinismo oculocutâneo tipo 1, o que significa que não possuo nenhum pigmento em meu cabelo, pele e olhos. Isso também afeta minha visão.  
Na universidade, frequentemente encontro pessoas que sabem muito pouco sobre a condição. Muitos perguntam na lata, como consegui tingir meu cabelo de tão branco e porque meus olhos não param de se movimentar para os lados (um sintoma do nistagmo). Outros possuem concepções errôneas, baseadas em mitos e na má representação pela mídia e então me questionam porque meus olhos não são vermelhos.  
Ao invés de insultos, precisamos de apoio e maior conscientização na universidade. Meus olhos incham e cansam de ler todos os livros exigidos pelo meu curso de literatura inglesa. Também tenho dificuldades em participar de debates em classe, porque não enxergo os rostos de meus colegas. Aprendi a adaptar meus hábitos de estudo, porém. Uso tecnologia que permite aumento de fontes e recorro a ajuda do serviço da universidade que auxilia deficientes, quando necessito.
Outros aspectos da vida universitária são mais difíceis. Mudei-me para um apartamento em uma cidade nova e mesmo tarefas aparentemente simples pareceram árduas nos primeiros meses. Cozinhar era complicado devido a instruções ilegíveis tanto no fogão, quanto nos produtos.  Também tive que procurar bastante por lugares mais calmos para cruzar ruas – tarefa muito difícil, porque não consigo ler placas ou ver o tráfego vindo em minha direção.  
Como todo mundo, sou disposta a aproveitar ao máximo todas as oportunidades sociais da universidade, mas às vezes tem sido duro. Muitos estudantes mencionam a semana dos calouros como o ponto alto de sua época de universidade, mas a quantidade de luzes na minha cara e perguntas insensíveis dão-me sensação diferente.
O problema não é só meu. “A universidade é pensada para os alunos sem deficiência, então, muitos eventos são inacessíveis para mim”, queixa-se Eva Doherty Roe, aluna do segundo ano de francês e cinema da Universidade de Glasgow, que também tem albinismo. “Além disso, é realmente desconfortável ter que explicar sobre sua deficiência visual e como ela te afeta, durante a primeira meia hora, quando você conhece alguém”.
A ONU decretou o dia 13 de junho como Dia Mundial de Conscientização do Albinismo, a fim de promover educação global sobre a condição e reduzir o estigma que a cerca. Isso é necessário, porque pessoas com albinismo enfrentam discriminação sob muitas formas:  desde o “albino malvado” dos filmes de Hollywood até os ataques a pessoas com albinismo para rituais.  
Só quando me tornei estudante, percebi a enormidade da tarefa enfrentada pelos ativistas da causa albina e a importância da conscientização global. Cresci com um monte de perguntas rudes e gente encarando e não achava que teria que lidar com isso também na universidade, além de meus desafios físicos.

O slogan para o dia de conscientização deste ano é “celebre a diversidade, promova inclusão, proteja nossos direitos”. Acredito que como lugares de aprendizado e riqueza cultural, universidades são perfeitas para que uma mudança de atitude com relação às pessoas com albinismo comece. 

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