terça-feira, 23 de agosto de 2016

TELINHA QUENTE 226

Roberto Rillo Bíscaro

Ao longo dos anos, tenho recebido mensagens elogiosas e críticas com relação às resenhas sobre música, livros, cine e TV. Algumas apontam que muitos textos são “subjetivos”, carecendo de imparcialidade. Nem discutirei a impossibilidade da neutralidade, apenas digo, são subjetivas e parciais, sim. Blog vem da expressão web log, cunhada no fim dos anos 90 e, grosso modo, significa um diário online, registro de atividades e opiniões. Blogues nasceram se autoafirmando como expressões individuais e o Albino Incoerente não é diferente.
As críticas vêm quando explicito, por exemplo, que algo é bom, mas não é pra mim ou não me agradou. Tais leitores decepcionar-se-ão com a resenha de hoje, porque a minissérie Jordskott (2015) pode até ser boa, mas falhou em me conquistar. Como 2 conterrâneas que também não me impressionaram – Graven e Morden -, Jordskott tem Göran Ragnerstam no elenco, cujo jeitão algo catatônico até curto (ou me acostumei).
O diferencial da dezena de capítulos de Jordskott pros demais Nordic Noirs é a adição do fantástico/sobrenatural, mediante alusão ao folclore escandinavo, como à serpente Jörmungandr, criada numa banheira por uma anciã. Pelo menos, intuo que seja a cobra, filha de Loki. Esse foi meu principal problema: ficar na névoa como a exuberante região florestal onde se passa a trama.
Tudo começa em Estocolmo, quando a policial Eva Thörnblad leva tiro dum sequestrador e tem que se afastar das atividades. A morte de seu pai leva-a de volta à distante cidadezinha de origem, onde sua família é importante na exploração florestal. No dia seguinte a sua chegada, crianças começam a desaparecer, assassinatos inexplicáveis pipocam e muita bizarrice toma o cotidiano de Silverhöjd. Aos poucos concluímos que o “inimigo” pode ser a própria floresta e que a fábrica de celulose e sua depredação da Natureza podem ser os responsáveis por iminente guerra entre humanos e seres míticos.
Comparada a Twin Peaks – bastou ser esquisito, já se compara à obra de David Lynch – Jorskott deixa o espectador durante quase metade sem saber porquês e com uma protagonista tão perdida quanto o telespectador. Eva demora ainda mais do que a metade pra fazer algo; passa quase todo o tempo reagindo e não protagonizando. Devo estar soando demasiado careta, mas 10 capítulos de personagens com os quais pude pensar em começar a empatizar apenas lá pelo oitavo não são pra mim.
Devo, porém, ser justo. Jordskott não é ruim. Não parei de vê-la, apenas não ansiava por um próximo episódio e adoro quando isso acontece. A minissérie me deu algum prazer intelectual, mas não me agarrou pelas bolas e preciso disso quando se trata de capítulos.
Pleonasmo vicioso dizer que o cenário natural sueco é arrasante, né? A Escandinávia esculacha, nossa!
O clima de vingança natural e da presença do folclore me lembraram do ciclo de horror ecológico dos anos 70 e, daquela mesma década, um microciclo britânico, que misturava paganismo celta com horror, tipo O Homem de Palha. Fãs de Arquivo X também deverão gostar. Não sou experto nos agentes Fax Moden, mas pelo que me lembro dum deles, o jeito mortiço do Wass (Göran Ragnerstam) se encaixa bem. Além do mais, quem curte pássaros se comunicando com humanos, gente caçando não-humanos disfarçados de humanos, poções mágicas e eventos que só serão explicados dali a 6 capítulos desfrutarão Jordskott.

Não é pra mim, mas reconheço a qualidade e que a maldita canção de ninar folclórica me assombrou durante dias. 

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