terça-feira, 3 de maio de 2016

TELINHA QUENTE 210

Roberto Rillo Bíscaro

Numa postagem de 2011, relembrei as sitcoms exibidas pela Globo antes da novela das 18:00, na segunda metade dos 80’s. Já vi completa a de segunda-feira, As Supergatas e recentemente as 7 temporadas de Caras e Caretas, exibida às quartas. Em inglês Family Ties, a série durou de 82 a 89 nos EUA e hoje seu único destaque é ter servido de trampolim pra fama do baixinho Michael J. Fox. Meio dramédia, fica quase difícil entender porque os Keatons chegaram ao segundo lugar de audiência. O show era simpático, mas não era pra tanto. Ou havia escassez de bons programas na época?
O centro é a família Keaton: os pais são ex-hippies e ativistas bicho-grilo dos então já distantes anos 60, em contraste com seus 3 filhos, especialmente Alex e Mallory, yuppies superficiais dos agora já longínquos 80’s. A dinâmica, então, seriam os conflitos entre o idealismo sessentista tendo que se adaptar/combater o monetarismo neoliberal oitentista. E até foi assim – embora papai Steven Keaton seja contraditório em diversos episódios – mas lá pela segunda, terceira temporada a estrela de J. Fox supernovou eclipsando a dos demais. De Volta Para o Futuro (1985) transformou o diminuto canadense num dos ícones da década e a maioria dos episódios passou a girar a seu redor, mantendo a dicotomia das décadas, mas protagonizando Alex. E o desgramadinho é carismático; pena o Parkinson ter prejudicado sua carreira.
Alex Keaton é pretensamente um aprendiz de Gordon Gekko, outro ícone 80’s do filme Wall Street, de Oliver Stone (1987). Fã de Nixon, Reagan, Thatcher e Bush Pai, pelo menos em teoria acredita na supremacia masculina branca e na prevalência do mercado acima de qualquer coisa. Por isso lê livros com títulos mais ou menos como “Como Enganar Velhinhos em suas Pensões”. Mas, sitcoms sendo instituições de preservação do humor sadio da sagrada família ianque, impossível um proto-Gekko protagonista, então, sempre somos lembrados de que no fundo Alex tem bom coração e é um conservador do bem. Essas contradições aniquilam a personagem e a série no fim das contas: o tom crítico com relação à administração Reagan e o machista que dá voz às mulheres cancelam-se mutuamente, mas afinal, era pra ser só mais uma comediazinha pra passar o tempo.
Quando a estrela de J Fox despontou, o show passou a ser dele, daí teve até episódio duplo em que certo realismo psicológico de peças à Arthur Miler foi usado pra provar que ele sabia atuar. Pode ser louvável, mas o episódio da morte do amigo, que provoca esses devaneios e uso de recursos teatrais, nada tem a ver com sitcom, sem contar que não combina com a necessidade de pelo menos ter uma piadinha a cada 3 minutos e a típica resolução simplória do subgênero, no caso, acreditar em Deus conserta tudo. Pífio, isso é o que se chama comprometer um coletivo por causa de um.

Minha personagem favorita era e continuou sendo Mallory, a fútil filha que só pensa em moda, é burrinha e foi pruma faculdade de segunda. Além dela, Skippy, o vizinho bobalhão e Nick, o namorado brutamontes de Mallory, de coração de ouro. Family Ties não é um grande show e nem recomendo pra quem não tem investimento emocional pelos 80’s. Há melhores pra se “entender” a década.
Dava medo do cabelão da Jennifer, como ela aguentava tudo aquilo? Mas foi gostoso ouvir citações sobre Culture Club (Mallory diz ser apaixonada por Boy George) ou Duran Duran (Mal usa o reloginho do DD) e perceber que mencionar Lou Grant ainda fazia sentido, mesmo sendo já na segunda metade da década e Mary Tyler Moore ou o show-solo de Ed Asner estarem fora do ar há anos. Caras e Caretas é pra tiozinho e tiazinha mesmo. Será que “careta” ainda é usado pra descrever alguém conservador?
Pra quem curte genealogia cinetelevisiva, pesquei as seguintes aparições ao longo das 7 temporadas.
- Judith Light, da versão século XXI, de DALLAS, com voz bem mais aguda, num episódio em que tinha forte atração por Steve.
- Tom Hanks participa como irmão de Elise, ídolo-executivo de Alex, que desfalcou uma corporação pra não deixar que demitissem 1,800 pessoas.
- David Faustino, o Bud de Married With Chldren, supermenininho na segunda temporada, como filho dum casal que se divorcia e o pai o rapta. Christina Applegate, a Kelly Bundy, também aparece em papel minúsculo, como integrante duma banda pop liderada por Jennifer. Só saquei que era ela, lendo os créditos finais.
- Daphne Zuniga, a Jo de Melrose Place, faz de namorada de Alex em 2 episódios na temporada 2. Outra que o namorou bastante foi Courtney Cox, que sei que é famosa, mas não porquê. E nem quero pesquisar o motivo.
- Geena Davis participa de 2 episódios com uma personagem totalmente inverossímil e a situação mais ainda. Ela faz uma governanta sem habilidade, porque era menina rica que queria provar que podia fazer algo. Não podia ser outra coisa, fia?
- JamesCromwell quase irreconhecível com perucona século XVIII interpretando John Hancock num micropapel em episódio em que Alex sonha presenciar Thomas Jefferson escrever a carta da independência. Também só percebi ser Cromwell, nos créditos finais.
- O trágico River Phoenix como um geniozinho mirim que se interessa por Jennifer. Se eu fosse fã dele teria dado pra perceber no episódio, porque ele aprece bastante, tem diálogo etc. Mas, a família Phoenix nunca me chamou a atenção.
- Esse foi surpresa que me fez exclamar alto, “gente, o Cyrus!” Jeff Perry, de Scandal, com bastante cabelo e fazendo um filho que noa aceitava o segundo casamento do pai.
Se você decidir ver Caras e Caretas, um conselho: evite a todo custo o especial Family Ties Vacation, da 4ª temporada, longa-metragem absolutamente sem graça. História de detetive com comédia pastelão na Inglaterra. Nada funciona; é tudo péssimo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário