quinta-feira, 12 de maio de 2016

TELONA QUENTE 158

Roberto Rillo Bíscaro

Uma das resenhas que registra maior frequência de acessos é a do telefilme britânico A Short Stay In Switzerland (2009), sobre a história real duma mulher que se aproveita da lei suíça que permite o suicídio assistido pra descansar em paz dos efeitos devastadores duma doença degenerativa sobre sua qualidade de vida.
Cercada de polêmicas, debates e intransigências na sociedade judaico-cristã que adora um sofrimento (mormente quando é de outrem), a eutanásia pode ser tema espinhoso pras artes, não apenas pelo potencial quilate polêmico (que é bom), mas porque pode descambar pra dramalhão proselitista pró ou contra, que não se propõe a discutir facetas, mas apenas discursar pra convertidos ou faturar pelo escândalo.
Os diretores e roteiristas israelenses Sharon Maymon e Tal Granit conseguiram evitar essas armadilhas no sobriamente comovente A Festa de Despedida (2015). Numa moradia assistida em Jerusalém, idosos têm que lidar com a decadência física, que às vezes significa perda da qualidade de vida e, sobretudo, muita dor e desconforto, que, para alguém beirando os 90 anos e já sem ninguém no mundo, parecem simplesmente em vão. Diante dos apelos de Max, alguns amigos inventam máquina de autoeutanásia, que, quando dá resultado, atrai outros pacientes terminais.
Pelo menos nos 2 atos iniciais A Festa de Despedida consegue injetar certo humor a tema tão potencialmente pesado, além de apresentar diversos argumentos usados por quem é contra e a favor da abreviação da vida. O roteiro toma posição bastante clara quando a personagem mais vocalmente contra a eutanásia é desafiada pela degeneração de sua própria saúde.
Em seus 90 e poucos minutos, a película não esquece de conferir identidades aos vários velhinhos, que afinal, não têm suas existências reduzidas a vítimas de doenças. Há o casal homossexual, onde um ainda não se assumiu pra mãe e o outro ainda vive com a esposa, numa metáfora de que certa porção de nosso destino e velhice não necessariamente precisam cheirar a decadência caso façamos algo a respeito. Eles também não são anciãos anjos de candura ou rabugentos profissionais; são seres complexos, o que ajuda a compreender algumas de suas motivações e atitudes, ainda que se discorde delas.
Sem golpes baixos emocionais, A Festa de Despedida convida-nos não apenas a discussão, mas a nos colocar no lugar do outro dolorido e cansado, ao mesmo tempo que afirma que nem toda velhice precisa ser assim. 

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