quinta-feira, 6 de novembro de 2014

TELONA QUENTE 103

Roberto Rillo Bíscaro

A Polônia é bastante homofóbica e insegura pra comunidade LGBT, se comparada com a Europa mais do Norte e do Ocidente. O ex-presidente nobelizado da paz Lech Walesa envolveu-se em polêmica ano passado ao afirmar que gays deveriam se sentar ao fundo do Parlamento ou até mesmo atrás duma parede. E o bofe não quis se desculpar, não. Macho ele!
Pois não é que meio sem planejar vi 2 filmes polacos do ano passado abordando homossexualidade e homofobia?
Płynące Wieżowce  é um desolador retrato dramático do florescimento dum amor entre o atleta Kuba e Michal. O concreto armado de Varsóvia – seus estacionamentos e trens – serve de cenário pra essa pouco colorida relação que tem que lidar com a namorada apaixonada e a mãe dominadora de Kuba, os pais desconversadores de Michal, além da patente homofobia interna e externa.
Pontuado por silêncios, cigarros e relações sexuais em locais arriscados, o filme não tem um bom desenvolvimento de todas as personagens e algumas ações/situações carecem de explicação/motivação. Płynące Wieżowce vale, porém, pelas atuações contidas, especialmente de Mateusz Banasiuk, capaz de transmitir inquietação, estupefação e desejo reprimido querendo entrar em erupção, quase tudo ao mesmo tempo. Gostei.


Não posso dizer o mesmo do mais elogiado W Imię..., cujo roteiro me soou difuso demais. Praticamente nada ocorre nos 40 minutos iniciais; que exposição longa e cheia de coisas desnecessárias ou repetidas!
A história envolve um padre, Adam, que toma conta dum centro pra garotos problemáticos no interior da Polônia. Demora pra que percebamos que o religioso nutre desejos mais do que fraternais por alguns garotos. Cuidando pra não dar a impressão de pedofilia, o filme tenta não chocar pra agradar a espectadores de sala de cine “de arte”, mas o desenlace certamente derrubaria alguns queixos mais opusdeisticos.
Excelentes atuações e boas sacadas do roteiro de mostrar a agressividade e a necessidade primal que alguns (muitos?) homens têm de exacerbar o que socialmente chamamos macheza como meio de afirmar (provar pra si mesmo apesar de dúvidas inconscientes?) sua heterossexualidade não preenchem os muitos minutos de desinteresse por nada de consequente estar acontecendo.

Interessante ver os 2 filmes seguidamente pra comparar semelhanças de cinematografia e roteiro (Kuba e Adam correm muito pra tentar diminuir o tesão e se masturbam em ambientes com água), além da diferença de tom nos finais, um distópico, outro não.
Malgrado as limitações de ambas as películas, cumpre saudar o nascimento duma discussão cinematográfica na Polônia a respeito da homossexualidade. Essa discussão é consistente em questões como antissemitismo, Segunda Guerra e comunismo. Oxalá, os temas LGBT continuem na pauta dos cineastas poloneses. 

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