segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

CAIXA DE MÚSICA 116


Roberto Rillo Bíscaro
Li no The Guardian que Phil Collins considera volta aosestúdios e talvez palcos, solo ou com o Genesis. Aposentado por problemas de audição e nos pulsos, o baterista tem vontade de excursionar pela Austrália e América do Sul, onde a banda jamais esteve (Phil, você tocou com o Genesis no Rio e em Sampa, em 77!).

Sei lá se finalmente verei minha banda favorita ao vivo, mas a notícia despertou tanta saudade dos tempos em que eu era aquele tipo de fã-estereótipo - que escarafunchava qualquer migalha de notícia ou defendia os ídolos mesmo quando era injustificável – que decidi rever Genesis: a History, documentário de 1990.

Sem ter onde reproduzi-la faz uns 10 anos, mantenho a versão original em VHS, importada numa época em que a facilidade internética nem passava por nossas cabeças. Baixei do You Tube o documentário completo, mas ainda não tivera ânimo de revê-lo. Deixei de ser Genesis-dependente há muito tempo, mas ainda são minha banda favorita e reassistir à Genesis: a History (re)provou isso.

Com depoimentos dos 6 (ex-) integrantes principais – Peter Gabriel, Anthony Philips, Steve Hackett, Mike Rutherford, Tony Banks e Phil Collins – e 2 ou 3 figuras importantes pra história da banda, os quase 90 minutos de documentário são um painel introdutório competente englobando a fundação sessentista do Genesis na esnobe Charterhouse School até o estouro pop dos anos 80.

Uma das bandas-madrinha da vertente sinfônica do rock progressivo, o Genesis era virtualmente desconhecido em sua nativa Inglaterra até 1972, quando as máscaras e fantasias do vocalista Peter Gabriel começaram a atrair a imprensa. Os genesianos são tão sinceros quanto possível pra pessoas públicas ao relatarem o quanto isso atrapalhou posteriormente e Gabriel afirma que problemas pessoais acoplados ao temor de se transformar no típico e excessivo rock star setentista levaram-no a abandonar o grupo e partir pruma carreira-solo criticamente respeitada, bem diferente do Genesis, sempre vilipendiado pela abertamente parcial imprensa musical britânica.

Collins jamais escondeu não apreciar a fase prog da banda e quando teve poder suficiente soprou black music e pop no Genesis pra transformá-lo numa locomotiva de sucessos nos anos 80. Por isso, soa sincera a admiração do cantor-baterista pela chacoalhada punk, que condenou ao ostracismo quem não se atualizou.
Com muito material ao vivo de época, Genesis: a History delineia as carreiras-solo dalguns membros e especialmente lamenta o sempre fracasso comercial do trabalho de Tony Banks. Embora concorde que o tecladista seja responsável pelo material que provavelmente mais encante os fãs “ortodoxos” – eu incluso – nunca me surpreendeu a obscuridade comercial de seus álbuns, que quando tentam ser pop são sem sal.


O especial Opening Night é mais indicado pra fãs estabelecidos. Tinha-o em meu HD há eras, mas só pude vê-lo semana passada.


Em 1992, o Genesis lançou We Can’t Dance, último álbum com Phil Collins; pra muitos fãs – como eu– o canto do cisne genesiano. Em 97, sairia o fiasco Calling All Stations, com o pobre Ray Wilson tentando a impossibilidade de substituir o baixinho baterista cantor.
Diferentemente de tantas bandas prog que não se reciclaram, o Genesis voava na estratosfera pop/rock no início dos anos 90 e o especial pra TV norte-americana prova isso, mostrando os caras fazendo comercial pra companhia aérea e sendo patrocinados por marca gigante de cerveja.
O Genesis escolheu Dallas pra iniciar a turnê mundial de divulgação do disco. Opening Night mostra preparativos técnicos pra excursão, entremeados com entrevistas com Banks, Collins e Rutherford. Bom humor sempre foi marca registrada desses ingleses e mesmo o potencialmente sisudo Banks sempre foi muito simpático. Em Opening Night os então 40tões não estão diferentes.
Pra fãs casuais ou neófitos – será que os há? – talvez não interesse o making of do clipe pra Jesus He Knows Me, mas a galera velha-guarda certamente adorará.
Trechos de canções executadas durante os ensaios gerais pros shows, que abusavam da alta tecnologia de áudio e vídeo da época, dão ideia da perícia, capricho e alta grana investida na turnê de We Can’t Dance, que, longe de ser grande álbum, entupiu os já obesos cofres da banda.

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