sábado, 3 de julho de 2010

O QUINQUAGÉSIMO-PRIMEIRO ESTADO NORTE-AMERICANO

Roberto Rillo Bíscaro

Como atrair o público pruma produção de ficção-científica com orçamento minguado? Colocar um título gritante sempre é boa estratégia. Foi o que fez o diretor britânico Terence Fisher, em 1965, em The Earth Dies Screaming (A Terra Morre Gritando). Em meados da década de 60, o filme ainda é em branco e preto e tem apenas pouco mais de uma hora de duração.
Um ataque com gás letal dizima a maioria da população, restando alguns poucos sobreviventes. Um som estranho é constantemente emitido pelos aparelhos de rádio e TV. A ação se concentra num vilarejo inglês onde alguns sobreviventes se encontram. Logo, são atacados por zumbis (por se tratar dum filme pré-George Romero, não há carnificina) e robôs, que caminham bem devagarzinho. A verba pro filme era tão baixa que se podem contar nos dedos das duas mãos os zumbis e robôs e um mindinho ainda fica de fora!
O pequeno grupo remanescente é liderado por um piloto de testes norte-americano. Isso mesmo, num filme inglês, o protagonista é da terra do Tio Sam! As personagens inglesas são indefesas, más ou patéticas, ao passo que o herói ianque é assertivo, otimista, inteligente e empreendedor. Pelo menos The Earth Dies Screaming se tocava de que os dias do império tinham acabado há tempos e a Inglaterra era uma espécie de 51º estado unido. Também deve ter contado o fato de que parte do financiamento pro filme provavelmente fosse norte-americano... De todo modo, a “suma importância” do governo de Sua Majestade na Guerra Fria restringia-se às narrativas compensatórias do 007.
O final da película é um primor. Depois de achada uma solução pro problema, o piloto propõe que peguem um avião e procurem mais remanescentes. A cena final é uma enorme aeronave decolando de um gigantesco aeroporto. Ué, mas eles não estavam em uma cidadezinha distante de Londres?
(Um pouquinho de reggae inglês...)

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