segunda-feira, 12 de julho de 2010

KALVKÖTT

Faz frio na Argentina. Prometem que esta será a semana mais fria do ano. Ontem garoou e o dia foi escuro; com o vento, a sensacao térmica era ainda mais baixa. Amo!

Foi dia de conhecer gente inédita.

Almocei no apartamento de Jorge, amigo de Carlito, que preparou um Gulash delicioso. Ele nos esperava com uma camiseta duma praia brasileira, muito simpático o gesto.

Por volta das 18 horas, me chamou uma nova amiga argentina, Monica, que trabalha prum órgao anti-discriminacao do governo. Me chamava pra ir ao teatro, num dos vários localizados na movimentada Avenida Corrientes. A despeito da baixa temperatura, Buenos Aires urgia na noite de domingo: gente celebrando a vitória da Espanha, pessoas coletando assinaturas pra apoiar a lei do casamento gay (debate nervoso em todo canto), livrarias e algumas lojas abertas, povo indo ao teatro. Bulicio, bulicio...

O Teatro El Nudo fica no 1551 da Corrientes e é bastante discreto se comparado com os que o rodeiam. Na verdade, funciona junto a uma livraria. A peca em cartaz é Kalvkött - Carne de Ternera, da argentina Silvina Chague. Vejam o blog do espetáculo
http://www.todocarne.blogspot.com/

Como entendo espanhol, prefiro ver producoes nativas ao invés de ver algum musical norte-americano montado aqui. Sei lá, nao me apetece vir ao país do refrigerante de pomelo e tomar Coca Cola! Se for pra sentir as mesmas sensacoes e gostos que sinto em casa, permaneceria no Brasil.

Kalvkött aborda o tema dos problemas pessoais e familiares causados pelos exìlios forcados pela ditaduras. Embora a obra seja bastante "argentina", há um expatriado chileno, que alarga os horizontes da narrativa temporalmente embaralhada da peca. Brasileiros, que tambem passamos por regimes de excecao, conseguimos penetrar no universo recheado de referencias culturais locais devido à similaridade de nossa trajetória política abusiva e gracas à empatia com as personagens, especialmente, os pais da exilada argentina.

Uma jovem argentina tem que se exilar em Estocolmo, em 1976, fugindo da repressao militar. Explorando a simultaneidade de acoes e embaralhando o fluxo temporal da narrativa, a peca vai nos mostrando, com humor, ternura e emocao, as dificuldades de adaptacao da exilada, a convivência com a cultura sueca, as saudades dos pais, problemas identitários...

Momentos de emocao, como quando o pai de Maria e a filha montam a mesma árvore de Natal, o primeiro em Buenos Aires, a segunda na Suécia. No palco apenas uma àrvore, cada ator colocando os enfeites de um lado, representando os dois países. Pai e filha cantando a mema cancao, em hemisfèrios distintos. Depois, o velho se senta e encara a árvore com tristeza.

Também momentos de riso, como quando o contido sueco chama o sogro argentino ao telefone e è atendido com um afetuoso e sonoro "hola. Hijo de puta!"

Alguma afinetadas como quando a mae coloca um livro de Jorge Luis Borges na mala pra presentear o genro sueco e o pai chama o escritor argentino de hijo de puta, dessa vez em tom bastante distinto. Afinal, segundo o pài de Maria, o venerado intelectual argentino dava palestras no mundo inteiro e jamais deu alguma indicacao das atrocidades que aconteciam no país.

Pra quem vem a Buenos Aires e entende algum espanhol, Kalvkött é excelente maneira de conferir uma obra argentina, pagando barato (50 pesos), se divertindo, emocionando, ouvindo Abba em espanhol e vendo boas interpretacoes.

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